Francês que cruza o Atlântico dentro de um barril chega à metade do caminho
Na última terça-feira, o francês Jean-Jacques Savin, que está tentando atravessar o oceano Atlântico dentro de uma espécie de barril totalmente à deriva, atingiu a metade do caminho.
E comemorou o feito, que aconteceu dois meses e meio após ter partido das Ilhas Canárias, com o objetivo de chegar a alguma ilha do Caribe, do outro lado do oceano, levado apenas pelos ventos e correntes marítimas.
"Metade já foi", escreveu Savin no seu Facebook, que é atualizado quase todos os dias (ou quando a internet via satélite permite) por ele mesmo, diretamente do meio do oceano.
Neste momento, Savin está em algum ponto da parte central do Atlântico, exatamente a meio caminho entre a África e o Caribe, como você pode conferir no mapa acima.
"Neste ritmo, talvez eu consiga chegar em alguma ilha entre Guadalupe e Porto Rico na segunda metade de abril ou início de maio, se os ventos ajudarem e soprarem na direção certa", escreveu ele em seguida. E completou:
"Não excluo a possibilidade de a travessia durar bem mais tempo do que eu havia planejado, mas estou mentalmente preparado para isso"
Até aqui, desde que partiu das Ilhas Canárias, no dia 26 de dezembro, Savin já boiou a esmo no oceano, feito uma rolha, por mais de 2.700 quilômetros. Ainda falta outro tanto desse. Mas ele está confiante.
"Estou sendo levado na direção certa e já tenho os ventos alísios me empurrando", escreveu ele dois dias atrás, na última comunicação que fez com terra firme.
"Nos fins de tarde, costumo sair do barril para ver o pôr-do-sol e, depois, as estrelas no céu", registrou o francês no Facebook.
O barril dentro do qual Savin vem fazendo a mais ousada travessia do Atlântico que se tem notícia é uma espécie de cápsula feita de material resistente, mas sem velas, nem motor ou qualquer tipo de propulsão ou comando.
Quem a move são as ondas e os ventos, razão pela qual Savin não tem a menor ideia de onde irá parar, já que não tem nenhum controle sobre a curiosa embarcação, construída por ele mesmo.
"Não sou o capitão de um barco, mas sim um passageiro do oceano. Ele me leva para onde quiser"
O barril do francês tem três metros de comprimento por dois de diâmetro e possui apenas uma cama, uma pia (com água dessalinizada extraída do mar), um fogareiro, um assento e um lugar onde ele guarda saquinhos de comida em pó, que lhes serve de alimento.
Para completar a dieta, Savin pesca. Com frequência, consegue capturar bons peixes, que ele os come crus ou ressecados, após ficarem dias expostos ao sol, do lado de fora do barril.
Também com frequência, o francês vasculha o horizonte em busca de navios, já que, neste momento, ele está boiando em uma das rotas marítimas mais movimentadas do planeta.
Longe, porém, de ser um alívio, isso é um grande problema, porque seu barril é tão pequeno que não consegue ser detectado pelos radares dos navios.
"Tenho visto vários navios passando e isso me preocupa, porque o risco de atropelamento existe", escreveu Savin, recentemente.
"Só relaxo quando consigo fazer contato com os navios pelo rádio e passo a minha localização, para que eles desviem, já que eu não tenho como fazer isso".
Antes disso, Savin costuma disparar foguetes sinalizadores, para chamar a atenção dos navios. "Durmo com três foguetes debaixo do travesseiro, prontos para serem disparados. E acordo a todo instante, para ver se há algum deles no horizonte".
Os encontros com navios, no entanto, têm rendido a Savin a oportunidade de conversar com outros seres humanos, já que do barril ele só consegue transmitir mensagens escritas.
"Vários comandantes me oferecem ajuda ou comida, pensando que sou um náufrago. E quando digo que meu 'barco' não tem vela nem motor, eles não entendem nada".
Mais curioso até do que a insólita embarcação que está conduzindo o francês de um lado a outro do Atlântico é ele próprio – porque Savin está longe de ser um jovem e atlético aventureiro.
Ao contrário, ele tem 72 anos de idade, que completou logo nos primeiros dias da sua travessia. Mesmo assim, decidiu fazê-la sozinha, sem nenhuma companhia. "Nem caberia outra pessoa no barril", explicou, ao partir das Ilhas Canárias.
Quando a natureza colabora, o francês consegue avançar bons quilômetros por dia, embora nem sempre na direção desejada.
Com certa frequência, passa dias navegando em círculos, quando os ventos não ajudam. Recentemente ficou cinco dias boiando, parado, sem sair do lugar.
Na média, a velocidade do barril de Savin não tem passado de 2 ou 3 km/h – menos do que uma pessoa caminhando.
Mas ele não tem pressa. Nem poderia ter, porque está totalmente à mercê do mar.
"Para manter a forma, já que não tenho como caminhar, de vez em quando eu me exercito, mergulhando ou nadando ao lado do barril. Mas só quando o mar permite isso"
A ideia do francês de atravessar o Atlântico completamente à deriva, dentro de um cilindro, veio de uma velha maluquice americana: a de se jogar nas Cataratas de Niágara, a mais famosa cachoeira dos Estados Unidos, dentro de um barril de madeira, algo que, no passado, muitos fizeram e poucos sobreviveram para contar a história.
Quem iniciou esta quase tradição (hoje proibida e punida com prisão para quem tentar repeti-la) foi uma mulher, a americana Annie Edson Taylor, 118 anos atrás (clique aqui para conhecer esta história), que, tal qual o francês Savin, já era uma senhora de 63 anos de idade quando decidiu embarcar na maior aventura de sua vida.
Ela sobreviveu. Agora, torce-se para que o francês tenha a mesma sorte. Por enquanto, está dando tudo certo. E só falta atravessar metade do oceano…
Fotos: Divulgação/Atlantique-tonneau.com
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