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Histórias do Mar

Sumiço no mar do ex de Olivia Newton-John gera especulações há 16 anos

Jorge de Souza

26/06/2021 04h00

Nos próximos dias, uma das mais intrigantes histórias envolvendo gente famosa de Hollywood completará 16 anos: o suposto desaparecimento no mar do cinegrafista americano Patrick McDermott, ex-namorado da atriz Olivia Newton-John.

Na manhã de 29 de junho de 2005, ele embarcou em uma grande lancha, com mais 22 pessoas, para dois dias de pescaria em alto-mar, na costa da Califórnia. Porém, no dia seguinte, quando o barco retornou a Los Angeles, McDermott não estava mais a bordo – embora, a princípio, ninguém tenha notado isso, já que os pescadores não se conheciam e na sua maioria estavam viajando desacompanhados, como o próprio cinegrafista.

O desaparecimento de Patrick, que na época já não era mais namorado da famosa atriz, com quem viveu por nove  anos, só foi sentido dez dias depois, quando sua primeira esposa, a também atriz Yvette Nipar, estranhou a ausência dele nas visitas semanais que fazia ao filho, e o fato de não atender o celular.

Investigando, ela chegou até o barco no qual ele embarcara e descobriu que os pertences, documentos e até a carteira de Patrick ainda estavam a bordo – bem como o seu carro, ainda estacionado na marina.

Só então começaram as buscas no mar pelo cinegrafista, que, no entanto, nunca foi encontrado.

Virou lenda urbana

Com isso, teve também início uma das mais famosas lendas urbanas de Hollywood: a de que Patrick McDermott teria forjado a sua própria morte e fugido para o México, onde ainda estaria vivo – um enredo digno de filme.

Mas que é impossível garantir que não seja real, já que o corpo de McDermott jamais foi encontrado.

Já os indícios de que ele poderia estar vivo atiçam até hoje os adeptos das teorias da conspiração.

Forjado a própria morte?

As suspeitas de que McDermott poderia ter simulado a própria morte começaram quando ficou claro que ele vinha enfrentando sérias dificuldades financeiras, que estava praticamente falido, devia dinheiro à própria Olivia Newton-John, e estava com dificuldades até para pagar a pensão alimentícia do filho do primeiro casamento, para quem, no entanto, havia feito um seguro de vida recentemente, nomeando-o como único beneficiário – se McDermott morresse, seu filho receberia o dinheiro, o que fez muita gente imaginar que teria sido um ato premeditado.

Como as buscas no mar foram infrutíferas e o corpo de McDermott não foi encontrado, as suspeitas aumentaram, especialmente depois que a Guarda Costeira classificou o cinegrafista como "desaparecido", e não "morto", já que não havia o cadáver.

Mas foi quando investigadores particulares, em busca de notoriedade, passaram a vasculhar povoados da costa leste mexicana a procura de pistas sobre o eventual paradeiro McDermott, que as suspeitas de fraude explodiram de vez.

Por um bom motivo:

Algumas testemunhas garantiram ter visto Patrick McDermott vivo.

Monitorado pela Internet

A partir do monitoramento de acessos a um site criado para tratar do sumiço do cinegrafista, àquelas alturas já quase tão famoso quanto sua ex-namorada, os investigadores identificaram de onde provinham as maiores quantidade de cliques no México, supondo que era o próprio McDermott que os fazia, a fim de acompanhar o que estava sendo feito para localizá-lo.

E foram para lá, em busca do suposto fugitivo.

O problema é que disseram ter "encontrado" diversos Patrick McDermott em diferentes lugares do México – e nenhum deles, aparentemente, correspondia ao verdadeiro.

Em diferentes lugares

Usando o seu nome de batismo, Patrick Kim, já que nascera na Coréia do Sul, filho de pais americanos e sul-coreanos, o cinegrafista teria sido "visto" tanto vivendo sozinho em um barco na costa mexicana, quanto na companhia de uma mulher alemã, em uma praia de Puerto Vallarta.

Em certa ocasião, um dos pressupostos "McDermott" teria sido até abordado, mas pediu "que o deixassem em paz" – algo que, muito provavelmente, jamais aconteceu.

Mais de 20 aparições

Vários outros "sósias" também foram erroneamente identificados como sendo o ex-namorado da atriz australiana, o que, durante anos, gerou uma espécie de caça a todos os homens que lembrassem vagamente o cinegrafista nas praias mexicanas.

Em 2009, um documentário de TV, feito para a série sensacionalista Os Mais Procurados da América, mostrou que havia mais de 20 registros de "aparições" de McDermott no México e em outros países da América Central.

Mas nenhum deles jamais foi autenticado como sendo o verdadeiro Patrick McDermott.

Morte "provável"

O frenesi não diminuiu nem quando, três anos após o sumiço do cinegrafista, a polícia americana e a Guarda Costeira concluíram o inquérito, indicando a mais óbvia das conclusões: a de que McDermott teria morrido afogado, após ter caído do barco em movimento sem que ninguém a bordo tenha visto – e sua ausência na chegada a Los Angeles não fora sentida porque ele estava desacompanhado.

Mas o fato de terem classificado a morte de McDermott como "provável" fez aguçar ainda mais os que sempre acreditaram que ele havia simplesmente fugido após se atirar ao mar e nadar até alguma praia.

Esta teoria ganhou ainda mais força quando ficou provado que, pouco antes de o barco retornar a marina, McDermott havia procurado um dos três tripulantes da embarcação para pagar as despesas do seu consumo durante a viagem, o que significava que, seja lá o que tivesse acontecido com ele, ocorreu já bem perto da costa.

Portanto, bastaria nadar até ela e fugir.

Homônimos geram confusão

Embora a tese de morte por afogamento, seguida do desaparecimento do corpo, tenha sido defendida tanto pela Polícia quanto pelas duas atrizes que viveram com o cinegrafista (embora Olivia Newton-John tenha passado anos sem tocar no assunto), o misterioso desaparecimento de Patrick McDermott continua alimentando rumores, até hoje, 16 anos depois.

No mês passado, o anúncio de duas mortes, quase simultâneas, de dois homônimos, nos Estados Unidos (onde o nome Patrick McDermott é bastante comum), trouxe, de novo, o caso à tona, com os mais desavisados achando que o famoso namorado da atriz havia sido, finalmente, descoberto.

Mas não.

Já a lenda urbana sobre o desaparecimento intencional de Patrick McDermott segue viva até hoje.

Um caso surpreendente

O que gerou tamanha popularidade e especulação foi o fato de que, além de ser ex-namorado de uma das atrizes mais famosas de Hollywood (quem não se recorda de Olivia Newton-John fazendo dupla com John Travolta, em "Grease – Nos tempos da brilhantina"?), o corpo de Patrick McDermott nunca foi encontrado, o que, no entanto, é bastante comum de acontecer no mar aberto, onde o barco no qual ele estava navegava.

A exceção costuma ser o oposto disso, ou seja, quando o corpo de alguém que caiu no mar aberto é encontrado ou, o que é muito mais raro, quando a vítima de uma queda acidental no alto mar sobrevive para contar a sua história.

Mas foi o que aconteceu com o também americano Tim Sears, em 2003, dois anos antes do sumiço de Patrick McDermott.

Mesmo tendo caído, bêbado e durante a noite, do décimo andar de um navio de cruzeiro que navegava no Caribe, Tim Sears não só sobreviveu à queda e a uma noite inteira boiando no mar, como seus berros conseguiram ser ouvidos por outro navio que passava, na manhã seguinte (clique aqui para conhecer esta incrível história).

Já a história do ex-namorado de Olivia Newton-John, de acordo com muitas pessoas, talvez ainda não tenha terminado.

Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.