175 anos depois, marinheiro de trágica expedição ao Ártico é identificado

Imagem: University of Waterloo/Diana Trepkov
Em maio de 1845, a Inglaterra despachou para o Ártico a mais poderosa expedição exploratória que já havia criado, com dois navios superequipados, o HMS Erebus e o HMS Terror, e 129 homens, sob o comando do experiente comandante John Franklin.
O objetivo era descobrir uma passagem que unisse os oceanos Atlântico e Pacífico entre os canais gelados do Ártico, o que encurtaria barbaramente as viagens para o continente asiático e a costa oeste americana.
Pelas dimensões e características da região, estava previsto que os dois navios, com todos aqueles homens a bordo, ficariam trancados no gelo, durante o inverno do Ártico, pois seria impossível achar o caminho, batizado de Passagem Noroeste, em poucos meses.
E foi o que aconteceu.
Só que, terminado o inverno, o gelo não derreteu e aqueles homens acabaram condenados a morrer de fome e de frio nos meses que se sucederam, após abandonarem os navios e partirem, a pé, em busca de ajuda, em meio a um deserto permanentemente inóspito e gelado.
Ninguém sobreviveu.

Imagem: Hulton Archive/Getty Images
Anos depois, outras expedições enviadas em busca deles só encontraram ossadas congeladas, impossíveis de serem identificadas.
Graças ao DNA
Até que veio o século 21 e a possibilidade de se fazer isso através de exames de DNA, comparando componentes genéticos das ossadas com supostos descendentes daqueles expedicionários – uma tarefa, contudo, difícil, já que eram muitas ossadas e muitos supostos descendentes a serem comparados, feito um gigantesco quebra-cabeças.
Imagem: University of Waterloo/Diana Trepkov
Na semana passada, veio o primeiro resultado positivo.
A partir de amostras de DNA enviadas pelo sul-africano Jonathan Gregory, cuja família sempre suspeitou que fosse descendente de um dos integrantes daquela fatídica expedição inglesa (a começar pelo mesmo sobrenome…), foi possível identificar positivamente uma das ossadas: a do marinheiro do H.M.S. Erebus, John Gregory, que morreu 175 anos atrás.
Com isso, Jonathan tornou-se, oficialmente, tataraneto de um dos membros daquela histórica e trágica expedição.
Ossada, agora, tem nome
Foi a primeira vez que uma identificação desse tipo pode ser realizada, o que abre esperanças de que outras ossadas de membros daquela fatídica expedição, que seguem depositadas no gelo do Ártico, mas agora sob a tutela de historiadores e antropólogos, também possam, finalmente, ganhar um nome.
A comparação foi feita por técnicos da Universidade de Waterloo, do Canadá, que ficaram entusiasmados com o primeiro "match" entre as vítimas daquela tragédia e seus atuais descendentes – única forma de conseguir identificar as ossadas, fazendo o caminho inverso nas análises genealógicas.
Foto: University of Waterloo/Robert W. Park
"Pelo menos uma daquelas sepulturas já deixou de ser a de um ser anônimo", comemorou o pesquisador Douglas Stenton, que, agora, a partir do sucesso da primeira identificação, acredita conseguir outras mais, já que mais famílias tenderão a colaborar, enviando amostras de seus DNAs para serem comparados com os das ossadas.
Uma trágica expedição
Além de revelar a sua identidade, a análise dos ossos mostrou que o marinheiro John Gregory tinha entre 43 e 47 anos de idade quando morreu, e ainda permitiu a sua reconstituição facial, o que deixou o seu tataraneto ainda mais recompensado por ter ajudado na pesquisa.
"Foi uma sensação estranha e interessante ver a cara do meu tataravô e ter contribuído para identificá-lo", disse Jonathan Gregory, ao receber a notícia do resultado positivo do teste.
A identificação provou que o marinheiro John Gregory sobreviveu três anos no frio inclemente do Ártico, e que morreu a cerca de 75 quilômetros do ponto onde os dois navios foram abandonados – e, mais tarde, afundaram, em um dos mais dramáticos episódios da história das explorações marítimas, que incluiu até atos de canibalismo e pode ser conhecido clicando aqui.
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