O bebê do mar: ela acabou de nascer, mas já navega no barco onde irá morar
Apenas duas semanas depois de nascer, a pequena Renata já vai encarar algo que a maioria esmagadora dos adultos jamais fez: uma longa travessia no mar.
Neste fim de semana, a bordo do veleirinho de apenas nove metros de comprimento que serve de casa para a sua família há dois anos, a bebê enfrentará cerca de 12 horas de navegação, entre Niterói — onde nasceu na semana passada em uma maternidade– e a Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, onde viverá os próximos meses.
Sempre a bordo do barco-casa ao lado dos pais, o casal argentino Juan Dorda e Constanza Coll, e o irmão Ulisses, de 4 anos.
Foto Renata Rocha/@rocharenatafotografia
"Não vai ter nenhum problema", garante o pai da bebê navegadora. "A Renata nasceu tão bem e saudável que só ficou dois dias na maternidade. No terceiro, já veio para o barco, que será a casa dela daqui em diante. E não estranhou nada".
Praia todos os dias
Desde que o bebê nasceu, nem a rotina desta curiosa família que mora no mar (clique aqui para conhecer melhor a história deles) foi alterada.
Eles seguem morando em um barco com pouco mais de 30 metros quadrados e desembarcando quase todos os dias para curtir as praias da região – mesmo com o bebê recém-nascido.
"O único incômodo é fazer caber tudo no botinho que usamos para ir do barco até a praia. Inclusive o cachorro e o bebê-conforto", diz o pai, que é um ex-psicólogo de Buenos Aires, que, junto com a mulher, uma ex-jornalista, abandonou tudo para viver uma vida diferente no Brasil. E com pouquíssimo dinheiro.
Vivem com um salário mínimo
Desde que decidiram largar os empregos que tinham na Argentina e mudar radicalmente de vida, a família, que nunca teve muitos recursos, vive exclusivamente do que recebe do aluguel do apartamento onde antes viviam, em Buenos Aires – o que equivale a pouco mais de um salário mínimo no Brasil.
"A vida num barco é extremamente barata", diz o pai da bebê que acaba de nascer. "E, para ajudar nas refeições, eu pesco".
"Levamos uma vida simples, mas maravilhosa", reforça a mãe da bebê, que, desde o terceiro dia de vida, também já vive sobre a água.
Covid alterou os planos
O plano original do casal era que a bebê nascesse na própria Ilha Grande, onde o barco da família costuma ficar ancorado, ou na cidade de Angra dos Reis, que fica em frente.
Mas a ilha não tem maternidade e o hospital de Angra dos Reis foi tomado por pacientes de Covid-19.
"Daí navegamos até Niterói, dias antes de a Renata nascer, e conseguimos uma maternidade que topou parcelar o pagamento do parto. Foi ótimo. E eles ainda deixaram a gente dormir no quarto. Foi a primeira vez que dormimos em terra-firme desde que viemos para o Brasil. O Ulisses até estranhou a cama não estar balançando", conta Juan, feliz da vida com o crescimento da família.
O berço é uma rede
Agora, para abrigar bem o bebê no barco, Juan planeja transformar uma pequena rede numa espécie de berço. "Veleiros balançam naturalmente. Então, bebês se sentem bem à vontade a bordo", analisa.
Foto Renata Rocha/@rocharenatafotografia
Por ter nascido aqui, Renata é única brasileira da família – os demais, todos argentinos, tem apenas autorização temporária de residência.
Mas seu nascimento pode ajudar o restante da família a conseguir a tão desejada dupla nacionalidade.
"Adoramos o Brasil e gostaríamos muito de ficar aqui, embora a gente não faça muitos planos para o futuro. Talvez, um dia, a gente parta com o barco para outros países, o que no nosso caso é fácil, porque a casa sempre vai junto", brinca.
Foto Renata Rocha/@rocharenatafotografia
Sem chuveiro nem geladeira
Como todo veleiro, no entanto, a "casa" da família argentina e seu bebê é um pouco diferente das outras. Não tem, por exemplo, chuveiro nem geladeira.
Mas nem isso preocupa a família.
"Bebê só precisa de leite materno, e isso não depende de refrigeração", diz Juan.
O primeiro banho de Renata no barco foi na pia da cozinha, sob extremo cuidado e carinho dos pais, como mostraram em suas redes sociais, no Instagram e Facebook.
Felizes da vida
"Tudo o que um bebê precisa é de atenção integral dos pais, e tempo para isso é o que nós mais temos hoje em dia", diz Juan, que também considera um barco como sendo o espaço ideal para uma criança, porque, "como o espaço é limitado, a família está sempre junta e unida", explica.
"Hoje, acompanho bem de perto cada passinho do desenvolvimento do Ulisses, e o mesmo acontecerá com a Renata", diz Juan.
Foto Renata Rocha/@rocharenatafotografia
"Curtimos cada momento do crescimento deles e isso é o que importa", diz o pai da bebê, feliz da vida com o crescimento da família, apesar do acanhado barco onde os quatro agora vivem.
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