"Foi um vento de furacão", diz ex-secretário de Ilhabela. Veja imagens
Quatro dias depois da inédita tempestade que atingiu Ilhabela, na tarde de domingo passado, os moradores da ilha e os donos de barcos ainda contabilizam os estragos – que não foram poucos.
Além da trágica morte da modelo Caroline Bittencourt, que se afogou durante a tempestade, nada menos que uma dúzia de barcos foram arremessados de encontro às praias da ilha, pelo menos um deles afundou por completo, e outro, de pequeno porte, invadiu um posto de gasolina, depois de "voar" por cima da principal avenida da ilha, como pode ser visto no vídeo abaixo.
Também dois navios foram arrancados do porto de São Sebastião, bem em frente à Ilhabela, e ficaram perigosamente à deriva no meio do canal que separa os dois municípios. Um tripulante morreu no episódio.
"Nunca vi nada igual", disse o ex-secretário de turismo de Ilhabela, Ricardo Fazzini, nascido e criado na ilha, dono de uma escuna que também foi parar na praia, depois de ter os cabos arrebentados. "Já retiramos 300 árvores caídas, só na parte urbanizada da ilha. Foi muito violento e sem precedentes na história da ilha".
"Foi vento de furacão"
Em Ilhabela, os ventos de domingo à tarde chegaram a 127 km/h, o que supera a categoria de uma simples tempestade. "Acima de 119 km/h, o vento já é igual ao de um furacão grau 1, e foi isso que passou pela ilha", diz Fazzini.
"Quem achava que não existia isso no mar do Brasil agora vai ter que rever seus conceitos".
O que contribuiu para que o vendaval fosse ainda mais violento no canal de Ilhabela do que em qualquer outra parte do litoral paulista foi a própria topografia da ilha, que tem picos que passam dos 1.300 metros de altura e próximos dos maciços da Serra do Mar.
"As altas montanhas de Ilhabela canalizam os ventos e potencializam a intensidade deles no canal, que, por ser estreito, vira uma espécie de funil", explica Marcos Möller, dono da principal marina da ilha, a Porto Ilhabela.
"É por isso que Ilhabela é considerada a Capital da Vela. Aqui, sempre tem mais vento do que nas outras partes do litoral. Só que, neste caso, houve vento demais ", explica.
"A maioria dos donos de barcos esperava ventos entre 60 e 70 km/h e veio quase o dobro disso", diz Marcos, que, tal qual todas as marinas da região, também recebeu um alerta da Marinha, na véspera.
"Na nossa marina, nós não deixamos o pessoal sair para passear de barco, porque sabíamos que os ventos seriam fortes. Mas, infelizmente, nem todo mundo leva os alertas à sério".
Desespero na tragédia
Dias depois, as versões sobre o acidente que custou a vida da modelo Caroline Bittencourt também se propagam na ilha.
Uma delas prega certa imprudência do casal, ao tentar atravessar o canal com uma pequena lancha, de pouco mais de cinco metros de comprimento, quando os ventos já haviam começado.
"Eles não foram pegos de surpresa pelo vento, como outros barcos foram", prega um experiente navegador. "Eles devem ter pegado uma onda de través que desequilibrou o barco, ela caiu na água, e ele, em vez de voltar com a lancha para resgatá-la, se atirou no mar para tentar salvá-la. Mas, por causa das ondas, a perdeu de vista", diz.
Outro vídeo igualmente dramático mostrou o resgate de uma família, incluindo um bebê de nove meses, após a lancha na qual eles estavam ter afundado numa das pontas da ilha. E incluiu o depoimento emocionado do pescador que os resgatou.
No Saco da Capela, tradicional ancoradouro de lanchas de veleiros na ilha, a situação foi assustadora, com vários barcos se soltando das boias e indo dar na praia, nem todos em perfeito estado e alguns depois de colidir com outros barcos.
Também no Yacht Club de Ilhabela, alguns píeres se soltaram e bateram nos barcos, gerando danos em meia dúzia deles.
"Foi apavorante o que aconteceu na ilha", resume o ex-secretário Fazzini.
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