O catarinense que faz e navega com barquinhos gigantes de papel
Quando era criança, o catarinense Roberto Vaz tinha o hábito de brincar com barquinhos de papel. Hoje, aos 54 anos e engenheiro formado, continua fazendo a mesma coisa. Só que em outra escala.
De vez em quando, ele ainda se diverte construindo gigantescos barquinhos de papel da maneira tradicional, ou seja, com dobraduras. Mas incrível mesmo é o que Roberto faz quando ficam prontos: navega dentro deles! Como se fossem barcos de verdade.
"Sempre fui irrequieto e cheio de ideias", diz o engenheiro, que também é professor de educação física, técnico em eletrotécnica, mergulhador, alpinista, paraquedista, piloto de asa delta e mecânico de Fusca — aptidão que precisou desenvolver quando, 23 anos atrás, decidiu ir rodando com um Volkswagen ano 1975 do Brasil à Atlanta, nos Estados Unidos, para assistir às Olimpíadas (dois anos depois, ele também rodaria a Europa inteira com uma Kombi, durante a Copa do Mundo da França).
"Quando eu tinha 13 anos de idade, fiz uma pipa gigante e me joguei do alto de um morro preso nela. Acho que fui o primeiro piloto de asa delta de Santa Catarina".
No caso dos barquinhos gigantes de papel, tudo também começou como uma brincadeira. Um dia, o professor de Roberto pediu que ele pensasse em algo diferente para um encontro de engenharia que haveria em Florianópolis. Ele, então, lembrou dos barquinhos da infância e resolveu fazer um bem grande, no qual coubesse dentro. E fez.
"Só troquei o papel pelo papelão", diz.
Nove metros de comprimento
O primeiro barco tinha quase nove metros de comprimento, 300 quilos de papelão dobrado a mão e emendado com quase 50 rolos de frita crepe, e fez a travessia completa dos 800 metros de mar que separam a ilha onde fica Florianópolis do continente em pouco mais de oito minutos – tempo suficiente para ele não dissolver antes do fim da navegação.
"Todo barco de papelão desmancha e afunda. Não tem jeito, porque água e papel não combinam. O segredo, então, é curtir cada minuto da brincadeira" – diz Roberto, que atualmente desenvolve duas outras ideias.
Uma delas é uma espécie de drone aquático, que pode ser monitorado à distância, que navega, filma e coleta amostras de água, enviando os dados em tempo real. "Ele é muito útil para avaliar poluição e contaminação na água", explica o criativo engenheiro.
Já o outro projeto é o de uma espécie de carro compacto anfíbio, movido a eletricidade. "Cansei de ficar preso no trânsito da ponte entre Floripa e o continente", explica. "Até o final deste semestre ele ficará pronto, e aí, quando o trânsito parar, eu atravesso pelo mar".
"Viver é como navegar em um barquinho de papel. Sabemos que, em algum momento, ele vai afundar. Importante é aproveitar bem enquanto estiver flutuando".
A façanha do primeiro barquinho de papelão do catarinense só não entrou para o Livro dos Recordes como o maior barco de papel da história (e, ainda por cima, navegável!) porque a entidade que registra os feitos mais bizarros do planeta alegou que, por usar fita adesiva para unir as placas de papelão, o barquinho de Roberto, que levou oito horas para ser construído, não era apenas de papel.
"Eles tiveram má vontade", recorda Roberto, que, em seguida, fez outro barco, do mesmo tamanho, para uma feira náutica em Floripa. E, de novo, navegou com ele, antes do inevitável naufrágio, seis minutos depois.
No total, Roberto já fez nove barcos do gênero e sempre procurou dar um sentido "ecológico" a brincadeira. Para isso, criou um projeto chamado "Reciclar é o nosso papel", no qual mostra que até caixas vazias de papelão podem ter outra finalidade, antes de seguirem para a reciclagem.
O último barco navegável de papelão que Roberto fez teve cinco metros de comprimento e foi feito para uma apresentação na escola do sobrinho. Como de hábito, ele construiu o barco ali mesmo, na frente dos alunos, aproveitando para ensinar a eles noções básicas de física, que explicam como e por que um barco flutua.
"O processo é o mesmo de um barquinho de papel convencional. Eu dobro, redobro, estico, faço vincos, puxo as pontas e sai um barcão. Mas feito de papelão. Pena que ele não dura muito".
O brinquedo que cruzou um oceano
Outros barcos do gênero já foram feitos mundo afora, sobretudo no Reino Unido, mas nenhum tão grande quanto os de Roberto.
Em compensação, foi também no Reino Unido que, no ano passado, dois meninos escoceses tiveram outra ideia que misturou brinquedo com navegação. Eles lançaram ao mar um barquinho feito de plástico, com o objetivo de ver se ele conseguiria cruzar, sozinho, o Oceano Atlântico. E não é que deu certo?
A curiosa experiência, que virou notícia no mundo inteiro (clique aqui para conhecê-la), rendeu fama aos dois garotos e pode ainda não ter terminado. Porque, meses atrás, eles perderam contato com o brinquedo, que pode ainda estar flutuando em alguma parte do oceano.
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