Por que os ambientalistas querem extinguir um lindo coral no mar do Brasil?
Destruir corais não é exatamente o que se espera de ambientalistas. Mas é exatamente o que tem acontecido com alguma frequência em alguns pontos do litoral brasileiro, entre a Bahia e Santa Catarina.
Nestas regiões, com ênfase no litoral Sul do Rio de Janeiro, grupos de biólogos e mergulhadores voluntários tem trabalhado com afinco para tentar eliminar, se possível exterminar de vez, um tipo de coral que não pertence ao mar brasileiro e que está aniquilando as espécies locais: o coral-sol – por isso mesmo chamado de "coral-assassino".
"Esse tipo de coral não pertence ao nosso litoral, é extremamente agressivo com as espécies nativas e, por isso, precisa ser removido", resume a bióloga Adriana Gomes, da Estação Ecológica de Tamoios, que cuida das áreas de preservação marinha da região de Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro, e coordenadora do Projeto Eclipse, que visa ofuscar (daí o nome do próprio projeto) o coral-sol na região.
O coral-sol é originário do Pacífico e acredita-se que tenha chegado ao mar brasileiro grudado aos cascos de navios. Há dois tipos: o amarelo, que é da Ilhas Galápagos, e o alaranjado, das Ilhas Fiji. Em alguns pontos da costa da região Sudeste já há os dois. E em quantidades cada vez mais preocupantes.
Um dos pontos mais críticos da concentração e proliferação desenfreada do coral-sol é, também, um dos um dos mais bonitos da costa sudeste do Brasil: a Ilha Grande, na Baía de Angra dos Reis. Ali, em certas partes da ilha, a situação já está se transformando em quase epidemia.
O coral-sol chegou à Ilha Grande colado às plataformas de petróleo, que são frequentemente levadas para reparos na ilha. E ali rapidamente infestaram as encostas rochosas, apesar dos esforços dos biólogos em combatê-los. O coral-sol, no entanto, se espalha muito mais rápido do que eles conseguem liquidá-los.
"É como enxugar gelo", diz a bióloga Adriana. "A gente limpa as pedras e eles voltam. Mas é só o que podemos fazer".
Para combatê-los, os ambientalistas usam talhadeiras para remover as colônias das rochas submersas onde elas ficam incrustradas. Mas nem assim os corais morrem. "O coral-sol só é neutralizado quando imerso em água doce", explica a bióloga. "É preciso removê-los do mar, o que dá um trabalho extra".
Por isso, os caçadores de coral-sol preferem que as pessoas não ajudem na captura dos invasores, porque, além do risco de remover corais errados (o que hoje é crime ambiental), não basta retirá-los e jogá-los no fundo do mar, porque eles apenas renascerão em outro lugar.
O problema do coral-sol na costa brasileira é que, como não é da nossa região, aqui ele não tem predadores. Ao contrário, tornou-se o principal predador dos corais nativos, como o coral-cérebro, típico do mar brasileiro.
Como ele cresce bem mais rápido que as outras espécies, porque não tem predadores, logo infesta toda a área, proliferando sobre os outros corais, sufocando-os e gerando um tremendo desequilíbrio em todo o ecossistema.
"É um enorme problema", sintetiza Adriana. "Mas as pessoas não percebem isso, até porque ele é lindo".
De fato. Dono de coloridos tentáculos de intensa cor amarela-alaranjada e formas que lembram flores subaquáticas, o coral-sol é um show para os olhos. E formam, rapidamente, grandes jardins submersos. Os mergulhadores menos informados vibram com as colônias coloridas. Já os ambientalistas se arrepiam.
O problema é quase o mesmo que outra espécie também invasora ameaça causar no mar de alguns pontos da costa brasileira: a do (igualmente lindo) peixe-leão, um predador voraz originário da Ásia, que já virou verdadeira praga no Caribe, de onde, teme-se, possa migrar para a costa brasileira.
No Brasil, alguns exemplares do peixe-leão já foram capturados, para preocupação ainda maior dos biólogos. "O peixe-leão é um problema ainda mais sério", garante o pesquisador brasileiro Luiz Rocha, que estuda a espécie. Para saber o por quê, clique aqui.
Fotos: Projeto Coral Sol Divulgação e ilhagrande.org
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