O casal que trocou tudo por um barco viaja pelo mundo com pouco dinheiro
Três anos depois de jogar tudo para o alto, largar os empregos, vender o carro, devolver o apartamento alugado, se desfazer de praticamente tudo o que tinham e comprar um pequeno barco, para com ele sair viajando pelo mundo, o jovem casal gaúcho Diego Maio e Georgia Spiandorello, ele com 34 anos de idade, ela com 33, não se arrepende em nada da decisão tomada.
"Temos vivido a vida que sempre quisermos ter", diz Georgia, uma ex-funcionária de uma empresa de importações em Florianópolis, onde o casal vivia até então, levando uma típica vida assalariada de classe média. "Não era ruim, mas não era aquilo que a gente queria para o resto das nossas vidas", completa Diego, um oceanógrafo que trabalhava em uma multinacional de pesquisas no mar. "Tinha a rotina chata do dia-a-dia, as contas para pagar, os engarrafamentos no trânsito e a má qualidade da vida urbana em geral", explica. Por essas e outras, Diego sempre nutriu o sonho de, um dia, viver num barco e usar o mar para viajar.
Já Georgia era o oposto disso. Nascera na Serra Gaúcha, nada sabia sobre barcos, jamais havia navegado e gostava do mar apenas quando ia à praia, como a imensa maioria das pessoas. "Até conhecer o Diego e ouvir os sonhos dele, jamais havia passado pela minha cabeça viver num barco, embora adorasse viajar. Mas resolvemos arriscar. E hoje não consigo imaginar vivendo de outra forma", diz Georgia, feliz da vida.
"Além disso, eu tinha medo de tudo: do mar, de o barco afundar, de faltar dinheiro para viver, de não gostar de morar num lugar apertado, até mesmo da nossa relação não dar mais certo, vivendo em estreito contato, num espaço tão acanhado", recorda. "Mas tudo isso ou acabou ou diminuiu tanto que eu nem sinto mais", diz. "Até os enjoos com o chacoalhar do barco praticamente acabaram", diz, rindo.
Em novembro de 2015, ainda como namorados, os dois embarcaram, literalmente, na nova vida. Zarparam com o barco de Florianópolis e foram subindo, lentamente, a costa brasileira, enquanto ganharam experiência e segurança para ir mais longe. Tempos depois, navegaram até o Caribe, onde se casaram numa cerimônia bem simples, numa praia de Punta Cana, na República Dominicana, na companhia apenas dos novos amigos que fizeram nas ilhas por onde passaram.
No Caribe, também mudaram de barco, quando surgiu a oportunidade de trocar o velho e pequeno veleiro no qual viajavam por outro um pouco maior, mas bem mais novo, por apenas R$ 10 mil a mais. "Fora do Brasil, os barcos custam bem menos do que aqui", ensina Diego.
Mas nem tudo são flores na vida de quem transformou um barco em sua casa. Há a manutenção constante do veleiro, que vive exigindo reparos, que, por falta de dinheiro, eles mesmo fazem, e no, caso deles, também o orçamento sempre bastante apertado. "Vivemos com cerca de R$ 4 mil por mês, que a gente se vira para conseguir, porque não temos família rica, nenhuma renda fixa nem dinheiro aplicado", diz Diego, que, quando consegue, faz algum trabalho temporário como oceanógrafo nos lugares por onde o casal passa.
"No momento, temos dinheiro para mais seis meses, mas tem sido assim desde o começo e, até agora, tem dado certo. Basicamente, só precisamos comprar comida e uma ou outra peça para o barco", explica. "É uma vida simples, mas deliciosa", completa.
O casal também aderiu a um site de crowdfounding, onde as pessoas que simpatizam com o projeto contribuem para a produção de vídeos que eles colocam num canal que criaram no YouTube. Nele, o casal gaúcho conta como é morar num barco, mostra o dia a dia a bordo e dá dicas realmente práticas e úteis para quem quiser fazer o mesmo que eles, e trocar a casa por um barco e a rotina pela vida no mar. Como neste vídeo, onde eles resumem como foram os três primeiros anos vivendo num barco e viajando mundo afora.
"Até agora, não temos do que reclamar", diz Georgia, que, mesmo reconhecendo que o conforto de um barco não é igual ao de uma casa, ainda não troca por nada o prazer de ver um golfinho passando rente ao barco ou assistir ao pôr-do-sol no mar. "Estamos vivendo e aproveitando a vida", resume. "Poder mover a nossa casinha de um lugar para o outro e ficar lá o tempo que quisermos é sensacional".
"Cada dia é diferente, e tempo é o que nós hoje mais temos para gastar", completa Diego, que, ao partir de cada porto, sempre brinca com a esposa: "Será que não esquecemos alguma coisa em casa?"
Até aqui, o único problema realmente sério que o casal enfrentou foi quando o furacão Irma, que atacou o Caribe no ano passado, atingiu exatamente o local onde o barco deles estava guardado, enquanto eles visitavam a família no Brasil, de avião.
O barco teve perda total, mas, com o dinheiro do seguro, eles puderam comprar um barco ainda maior e mais novo, o atual Unforgettable III ("Inesquecível", em português), que tem três quartos, sala, cozinha e banheiro, tudo pequeno, "mas uma piscina gigantesca", como brinca o casal.
Com o novo barco, os dois estão, neste momento, nas paradisíacas Ilhas San Blás, na costa do Panamá, juntando dinheiro para a próxima etapa da viagem, que será de lá até o Taiti, possivelmente entre março e abril do ano que vem, onde pretendem ficar não sabem até quando.
"Não fazemos muitos planos", diz Diego. "Vamos apenas avançando de um lugar para o outro", diz. "Não é mais uma viagem. É a nossa nova vida", sintetiza. Arrependimentos? Nem um pouco. "Falta, eu só sinto da família", finaliza Georgia.
Embora não descartem a possibilidade de, um dia, voltarem a viver em terra-firme, Georgia e Diego não cogitam estipular um prazo para terminar a vida no mar. "Há muitas famílias que vivem num barco para sempre e, quem sabe, a gente não faça o mesmo?", diz, Georgia. "Mesmo no Brasil, tem gente que vive assim há muito tempo", completa, citando alguns exemplos.
Um deles é o casal Hélio Viana e Mara Blumer, que há 20 anos mora num pequeno veleiro em Angra do Reis, cuja interessante história também pode ser conferida, clicando aqui.
Fotos: Arquivo Pessoal
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