Um homem de 51 anos está cruzando o Pacífico a nado. E garante que consegue
Neste exato momento, um homem está dando vigorosas braçadas no oceano Pacífico. Mas não se trata de um homem qualquer. Muito menos uma simples atividade física. O que nadador francês, naturalizado americano, Benoit Lecomte está fazendo, neste exato instante (e seguirá fazendo, todos os dias, pelo próximos seis a oito meses), é tentando atravessar a nado o maior oceano do planeta.
Mas não é a primeira vez que "Ben" Lecomte encara, no braço, um oceano inteiro.
20 anos atrás, em 1998, quando ainda era um jovem de 31 anos, ele cruzou o Atlântico também nadando, dos Estados Unidos à França, numa façanha que durou 73 dias, mas, mesmo assim, gerou muitas críticas (clique aqui para saber por quê).
Agora, o desafio é bem maior: Lecomte está nadando do Japão aos Estados Unidos, numa travessia de 8 000 quilômetros – o mesmo que toda a costa brasileira, só para dar um exemplo do tamanho da ousadia.
A odisseia começou na semana passada, quando, escoltado por um barco e uma equipe de 20 pessoas, o nadador entrou no mar, numa praia do Japão, com o objetivo de chegar a São Francisco, do outro lado do Pacífico, na costa oeste americana. Para isso, ele pretende nadar a mesma distância que um avião a jato leva quase um dia inteiro para atravessar.
Impossível? Não é o que Lecomte pensa.
Desde que começou a travessia, ele vem nadando oito horas por dia, todos os dias, parando só para comer, dormir e descansar no barco que o segue e o protege, por exemplo, dos tubarões – sobretudo os da espécie Branca, os mais ferozes e violentos do planeta, abundantes naquela parte do Pacífico.
Para evitar problema com os tubarões, o barco que escolta o nadador está equipado com um sistema eletromagnético que emite ondas vibratórias dentro d´água, que afugentam os bichões – mesmo recurso que ele já havia usado, com sucesso, durante a travessia do Atlântico.
Embora seja uma travessia de extremo fôlego (e ponha fôlego nisso!), Lecomte está longe de ter o esteriótipo de um atleta profissional. Ao contrário, ele já soma 51 anos de idade e tem o corpo franzino, se comparado ao de qualquer nadador olímpico. Seu segredo, no entanto, é a resistência. Poucos nadadores até hoje conseguiram nadar tanto, durante tanto tempo, sem perder o ritmo.
No Pacífico, Lecomte vem nadando cerca de 40 quilômetros por dia e queimando cerca de 8 000 calorias no mesmo período.
Para manter o rumo certo, algo praticamente impossível no mar aberto, ele conta com a ajuda do barco, que lhe escolta e mostra a direção a seguir, através de um fita boiando no barco. Lecomte apenas segue a fita.
Dentro do barco, vão perto de 20 jovens cientistas, que usam a lenta travessia do nadador (provavelmente a mais vagarosa já feita até hoje no Pacífico) para ir colhendo amostra da água marinha em diferentes partes do oceano.
O objetivo é comparar dados como salinidade, acidez, índices de radioatividade e, acima de tudo, quantidade de lixo na água, já que, por conta das correntes marinhas, esta parte do Pacífico é considerada o maior depósito de resíduos plásticos do planeta. Uma espécie de colossal lixão marinho.
E é exatamente no meio desta absurda quantidade de lixo que Lecomte fará a sua inédita travessia. "Quero ajudar a chamar a atenção do planeta para a dramática questão do lixo plástico nos oceanos", explicou o nadador, ao começar sua audaciosa travessia.
Os cientistas a bordo de apoio também estão analisando as reações do organismo do nadador-maratonista ao esforço extenuante e contínuo, a baixa gravidade gerada pela água durante tanto tempo, a regulação da sua temperatura corporal (embora ele nade vestido da cabeça aos pés) e monitorar constantemente a sua pulsação cardíaca.
Será um teste inédito para a ciência, já que não é todo dia que surge alguém disposto a atravessar um oceano inteiro apenas com a força dos braços e das pernas.
Mas Lecomte garante que chega lá. E convém não duvidar.
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