Uma tonelada de cocaína no barco. Mas os três brasileiros juram inocência
Três meses depois do julgamento que os condenou a mais de dez anos de prisão por tráfico internacional de drogas, os três velejadores brasileiros que estão presos em Cabo Verde desde o ano passado seguem confiantes de que justiça será feita e eles terão uma nova chance de provar que são inocentes – algo que, praticamente, ninguém tem dúvidas.
Neste momento, um recurso está sendo analisado pela Justiça de Cabo Verde, pedindo a anulação do julgamento. O argumento é a teoria desenvolvida pelo juiz cabo-verdiano Antero Tavares, que condenou os brasileiros com base apenas nas suas próprias conclusões, sem ouvir todas as testemunhas e ignorando o relatório da Polícia Federal brasileira, que vistoriou o barco antes dele partir do Brasil, e deixa claro que os brasileiros não são culpados – mas sim o dono do veleiro, o inglês George Saul, mais conhecido como "Fox" ("Raposa", em inglês), que está foragido.
Para completar o desastroso julgamento, o juiz decidiu publicar sua sentença em um papel timbrado com a figura do lendário justiceiro Zorro (nome que a operação recebeu em Cabo Verde), em vez do brasão do país, o que foi interpretado como falta de respeito, tanto pelos condenados quanto pela Justiça daquele país. Dias depois, o impresso foi alterado. Mas o recurso já estava pronto e, agora, a Justiça de Cabo Verde tem até o final do ano para analisá-lo.
Para compreender este caso, que envolve a maior quantidade de cocaína já transportada por um barco particular a partir do mar brasileiro (exatos 1 157 quilos, ou mais de uma tonelada, uma carga avaliada em mais 800 milhões de reais), é preciso voltar quase um ano no tempo, quando da partida dos três jovens brasileiros (o gaúcho Daniel Guerra, de 36 anos, e os baianos Rodrigo Dantas e Daniel Dantas, de 25 e 43 anos, que, apesar do mesmo sobrenome, não são parentes), de Natal para os Açores, a bordo do veleiro de bandeira inglesa Rich Harvest, para o qual haviam sido contratados, juntamente com o comandante francês Oliver Thomas, que também está preso.
Basicamente, os brasileiros entraram de gaiatos num barco abarrotado de cocaína, que eles sempre juraram que não sabiam que existia. A droga estava escondida em um engenhoso compartimento secreto, no fundo do casco, mandado construir pelo dono do barco – que ia junto na viagem, mas, na última hora, espertamente, caiu fora.
Quando o barco fez uma escala não prevista em Cabo Verde, a polícia local foi alertada (até hoje não se sabe por quem), encontrou a droga e prendeu o francês e os brasileiros – mas não o dono da droga e do barco, o inglês Fox.
O tráfico de drogas do Brasil para a Europa pelo mar é muito maior do que se possa imaginar. Só em 2016, aumentou incríveis 900%, o que ilustra bem a serventia que os barcos passaram a ter para os narcotraficantes. Segundo estimativa, de cada dez quilos de cocaína que deixam o Brasil atualmente rumo à Europa, nove seguem pelo mar, quase sempre escondidos dentro de conteineres em navios.
Em barcos particulares, o tráfico sempre envolveu volumes irrisórios. Até os inacreditáveis 1 157 quilos de cocaína encontrados no Rich Harvest, que colocaram aqueles três jovens brasileiros na arapuca que se encontram até hoje.
Desde então, as famílias dos brasileiros passam os dias tentando provar a inocência dos rapazes, que sequer receberiam pela viagem – apenas ganhariam experiência de navegação, visando um futuro emprego no mundo náutico.
É certo que os brasileiros foram ingênuos em continuar a bordo de um barco sabidamente investigado por tráfico de drogas, sobretudo depois de seu proprietário ter dado no pé. Faltou sagacidade para intuir que algo não cheirava bem naquela história. Mas daí a terem cometido um crime de proporções inéditas é outra história.
Você pensa diferente?
Então, antes de tirar suas próprias conclusões, como fez o juiz que condenou os brasileiros, que tal clicar aqui e saber todos os detalhes deste revoltante caso?
É bem provável que, você também, mude de opinião.
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