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Histórias do Mar

A incrível casa-barco do litoral paulista construída pelo próprio dono

Jorge de Souza

18/10/2018 04h00

O que este iate está fazendo no jardim desta casa, num condomínio da praia de Boracéia, no litoral norte de São Paulo? Simples. Ele é a própria casa! Uma casa de verdade, feita de tijolos e cimento. Só que em forma de barco.

Quem teve a ideia e a construiu foi o aposentado Ambrosio Gnecchi, que, junto com a mulher, Magda, vive na sua curiosa casa-barco há mais de 20 anos. "Eu queria fazer algo diferente", conta Ambrosio. "E como não achava pedreiros que entendessem o que eu queria fazer, fiz eu mesmo tudo sozinho, tijolo por tijolo".

A casa tem três suítes (ou "camarotes", como informam as plaquinhas nas portas dos quartos), sala, cozinha e tudo o mais de uma casa convencional — só que com o formato de um barco. Tem até uma pequena piscina, na frente (ou, melhor dizendo, na "proa") da casa. "Ela tem 300 m2 de área e´75 pés` de comprimento", brinca o sempre bem-humorado Ambrosio, numa alusão ao padrão utilizado para medir o tamanho dos barcos.

Embora a exótica casa do casal Gnecchi nada tenha de incomum por dentro (exceto janelas redondas em forma de escotilhas), de resto tudo lembra um grande barco. A campainha é um sino, igual ao dos navios. A chaminé esconde a caixa d´água. O terraço é um convés, com, inclusive, mastro e luzes de navegação – que eles usam para iluminar a casa à noite. E a cabine de comando é um bar, decorado com timão, bússola e um painel cheio de reloginhos. Tem até uma estridente buzina de nevoeiro, que Ambrosio aciona em dias de festa ou quando quer comemorar algo, para desespero dos vizinhos, que, por sorte, são os próprios filhos do casal.

Do lado de fora, o muro imita marolas e duas âncoras sobem e descem sobre um laguinho que contorna as paredes em forma de casco. Nele, quando acionado, um jato de água direcionado dá a sensação de a casa estar navegando de fato. É uma diversão só.

E não para por aí. Na lateral, há uma espécie de guindaste que ergue e baixa um pequeno bote salva-vidas de verdade. "Usamos ele para encher de cerveja e trazer aqui pra cima", brinca Ambrozio.

Por essas e outras, tem sempre algum curioso na calçada querendo ver a casa por dentro, já que por fora ela é tão fiel a um barco de verdade que nem parece ser de alvenaria. "Já peguei gente pulando o muro para olhar pela janelinha", recorda, rindo, Magda, sempre tão bem-humorada quanto o próprio Ambrosio. "E quem não seria se morasse numa casa assim?", pergunta.

Não seria, porém, mais fácil ter comprado logo um barco pronto? "Claro que sim", diz Ambrosio. "Mas não teria a menor graça e precisaria ser um iate para oferecer o mesmo espaço e conforto que temos em casa", explica. "E ainda iria enferrujar um bocado", completa, rindo.

O curioso é que o casal não tem um barco de verdade. "A Magda não gosta de navegar", diz Ambrosio. "Ela enjoa e tem medo. Então, fiz um iate que não balança nem afunda", diverte-se.

Apesar de tudo, eles, agora, decidiram vender a sua curiosa casa-barco. "Os filhos cresceram, os netos também, e ela ficou grande demais para só nós dois", explica Magda, repetindo o argumento de nove em cada dez maduros casais – embora nenhum deles viva numa casa como aquela.

Segundo os corretores da região, ela vale cerca de 3,6 milhões de reais. "Não é pouco dinheiro, mas é menos do que custa um iate de verdade", brinca Magda. "E dá bem menos despesa", completa o marido Ambrosio, que já sabe o que fará com o dinheiro. "Vou construir outra casa", informa. "Será um farol!".

"Ele não tem jeito", resigna-se Magda, já se preparando para começar tudo de novo.

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Fotos: Jorge de Souza

 

Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.