Topo

Histórias do Mar

Ex-pescador faz pizzas quentinhas e entrega de canoa no mar

Jorge de Souza

17/02/2020 11h07

Barcos que foram transformados em bares flutuantes e ficam ancorados nos pontos mais frequentados pelas lanchas de passeio no litoral entre São Paulo e Rio de Janeiro não são nenhuma novidade.

Mas o barco-bar do ex-pescador caiçara Jorge Miguel, uma antiga traineira de pesca que fica permanentemente parada na paradisíaca Ilha da Cotia, em Paraty, é bem diferente dos demais.

Em primeiro lugar porque não é apenas um barco-bar e sim um restaurante flutuante de fato – com mesas, cadeiras, toalhas, cortinas etc. E, segundo, porque no cardápio oferece algo praticamente inédito no meio do mar: pizzas feitas na hora.

"Os clientes pediam pizza, em tom de brincadeira. Daí eu pensei: por que não colocar um forno na traineira e servir pizzas também?", conta o ex-pescador, um legítimo caiçara nascido na Ilha Grande, daqueles que ainda usam chapéus de palha para se proteger do sol na canoa e sem a ponta de um dos dedos "que um tubarão levou, quando eu ainda pescava".

Motoboy do mar

Há cinco anos, Jorge Miguel toca a sua inusitada pizzaria flutuante no mar da isolada – e linda – Ilha da Cotia com a ajuda apenas da família.

A filha Vivia recebe e anota os pedidos que vêm dos veleiros e lanchas através do aparelho de rádio do barco (lá não pega celular), a esposa, Janete, prepara e assa as pizzas (num forno elétrico, cuja energia vem de painéis solares instalados no barco), e Jorge Miguel entrega as redondas, de canoa, nos barcos dos clientes, em pleno mar – certamente, o mais original serviço de entrega de pizzas do país.

"As pizzas chegam quentinhas e sequinhas", diz o ex-pescador, hoje uma espécie de motoboy do mar, acostumado a remar canoas desde criança. "Não respinga nem uma gotinha de água na embalagem", garante.

Como o barco virou pizzaria

Tempos atrás, o sucesso das "pizzas al mare" de Jorge Miguel se tornou tão grande que ele resolveu investir e ampliar o negócio.

Comprou um pequeno catamarã usado, o transformou em uma balsa, permanentemente atada à sua ex-traineira de pesca (que foi transformada em cozinha), e criou uma pizzaria flutuante com 30 lugares e que funciona todos os fins de semana e feriados prolongados – como agora, no Carnaval, quando o movimento sempre explode.

"Mas, como ficamos no mar, também oferecemos porções de peixe, lula e camarão", que o pessoal também pede bastante. Aliás, a pizza de camarão é uma delícia, e com a garantia de que o camarão é sempre fresco, porque vem daqui mesmo", diz a filha Vivia, que além de pegar os pedidos que chegam dos outros barcos, também atende as mesas na curiosa pizzaria flutuante.

Só ele faz assim

Barcos já foram transformados em hospitais, livrarias, agências bancárias, até adegas, como é o caso do velejador português Henrique Afonso, que está dando a volta ao mundo com um veleiro cheio de garrafas de vinho, para que eles envelheçam da mesma forma como no tempo das caravelas.

Mas como pizzaria flutuante e com entrega feita em canoa a remo só mesmo a curiosa ideia que teve o ex-pescador Jorge Miguel.

Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.