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Histórias do Mar

Ele nadou cinco meses seguidos no mar, mas já tem o seu recorde ameaçado

Jorge de Souza

07/11/2018 11h20

O supermaratonista inglês Ross Edgley, que, no último domingo, tornou-se o primeiro homem a contornar a grande ilha da Grã-Bretanha a nado, nadando durante 157 dias e estipulando um novo recorde mundial, já tem sua incrível marca ameaçada. E pelo próprio ex-recordista do gênero, o francês naturalizado americano Benoit Lecomte. Neste momento, Lecomte está fazendo algo ainda mais extraordinário: cruzando o oceano Pacífico, do Japão aos Estados Unidos, também apenas com a força dos braços.

O inglês Edgley, de 33 anos, entrou no mar no dia 1º de junho, numa praia da Inglaterra, e só voltou a pisar em terra-firme no último domingo, 4 de novembro, no mesmo local, depois de passar mais de cinco meses seguidos na água.

Durante esse período, ele nadou cerca de 12 horas por dia, todos os dias, até completar o percurso de 3 200 quilômetros (mesma distância entre o litoral de São Paulo e o do Pará, pelo mar) ao redor da imensa costa do Reino Unido. Foi como se, ao longo de mais de cinco meses, ele tivesse feito uma travessia do Canal da Mancha por dia – um feito tão magnífico quanto inédito.

Edgley chegou vários quilos mais magro, com certa dificuldade para caminhar e com a língua tão inchada que quase não cabia dentro da boca, por causa do contato quase permanente com a água salgada — mas eufórico com a façanha, até então jamais sequer tentada.

Chegou também com uma espessa barba, que deixou crescer propositalmente para ajudar a proteger o rosto das queimaduras provocadas pelo contato frequente com águas-vivas – além de usar uma máscara especial nas áreas mais críticas. "Meu rosto chegou a ser envolvido inteiro por uma delas", contou Edgley, ao resumir os momentos mais difíceis da longa jornada, que também teve tempestades, muito frio e fortes correntezas contrárias.

Para ajudá-lo na dura empreitada, havia um barco de apoio, ao qual o nadador recorria para descansar, após turnos de seis horas consecutivas dando braçadas no mar — ele fazia dois turnos destes por dia, e se alimentar — sobretudo de bananas, fruta rica em potássio, que ajudava a evitar cãibras.

"Comi mais de 500 bananas durante a travessia", disse Edgley, um superesportista que já fez coisas incríveis, como correr a mesma distância de uma maratona (42,1 quilômetros) arrastando um automóvel preso a cintura, o que lhe custou 19 horas de esforço sobre-humano.

Dois anos atrás, Edgley também entrou para o Livro dos Recordes por ter simulado a mais longa escalada com cordas da humanidade, ao galgar o equivalente à altura do monte Everest, a montanha mais alta do planeta.

Mas o inglês garante que não faz esse tipo de coisa em busca apenas de fama. "Eu sempre quis estimular as pessoas a se desafiarem fisicamente, mesmo que seja numa primeira corridinha no parque", explica Edgley, que é dono de uma empresa de suplementos nutricionais voltada para esportistas e frequentadores de academias.

Apesar de igualmente impressionante, o seu recente recorde de 157 dias consecutivos nadando no mar inglês, reconhecido pela Associação Mundial de Nadadores de Águas Abertas, parece já estar com os dias contados.

Isso porque o seu maior oponente, Benoit Lecomte, detentor do antigo recorde (que Edgley pulverizou ao nadar consecutivamente mais que o dobro da marca do francês-americano) já está nas águas do Pacífico há 150 dias, embora nem todos eles efetivamente nadando, porque nem sempre as condições do oceano permitem.

Mas, como ainda restam dois terços do percurso de quase 10.000 quilômetros, cuja travessia começou em junho e está prevista para durar oito meses, é bem provável que, até lá, Lecomte, de 51 anos, derrube a nova marca do inglês e recupere o recorde, que ele estabeleceu 20 anos atrás, em 1998.

Naquela ocasião, Lecomte levou 73 dias para cruzar outro oceano a nado, o Atlântico, numa jornada, no entanto, um tanto polêmica, como pode ser conferida clicando aqui.

 

Fotos: Red Bull Content Pool (Ross Edgley) e The Longest Swim (Benoit Lecomte)

Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.