Histórias do Mar http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos Sat, 18 Sep 2021 07:00:41 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sino que teria sido da nau de Colombo vai a leilão: lance mínimo 31 milhões http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/18/sino-que-teria-sido-da-nau-de-colombo-vai-a-leilao-lance-minimo-31-milhoes/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/18/sino-que-teria-sido-da-nau-de-colombo-vai-a-leilao-lance-minimo-31-milhoes/#respond Sat, 18 Sep 2021 07:00:41 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3412

529 anos depois de, ao que tudo indica, ter sido usado para anunciar a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492, e 27 anos após ter sido achado, no fundo do mar de uma praia de Portugal, pelo mergulhador italiano Roberto Mazzara, o suposto sino da nau Santa Maria, capitânia da frota de Cristóvão Colombo naquela histórica viagem, está à venda, nos Estados Unidos, por meio de um leilão privado que está sendo promovido pelo próprio autor da descoberta que já passou grandes apuros por conta do seu achado.

O leilão acontece em duas fases.

Na primeira, que começou na última quarta-feira, os interessados devem apenas manifestar interesse na peça, através do email thesantamariabell@gmail.com ou na página do leilão no Facebook.

Já o leilão propriamente dito acontecerá em Miami, em data ainda a ser divulgada, tão logo haja um número mínimo de participantes – já que não se trata de um objeto com preço acessível a qualquer pessoa.

O lance mínimo inicial será de 6 milhões de dólares, ou mais de R$ 31 milhões, mesmo valor do único lance que o sino recebeu no primeiro leilão que houve, dois anos atrás, oferta que o dono da peça recusou.

“Este sino vale muito mais que isso”, diz o italiano. “Especialistas de casas de leilões, como a Sotheby’s e Christie’s, falam em até 100 milhões de dólares. Mas a verdade é que o valor histórico do sino é inestimável”.

Só para milionários

Pelas altas cifras envolvidas, o leilão (que, espera-se, aconteça nas próximas semanas) deve ficar restrito a apenas dois tipos de interessados: colecionadores particulares milionários ou entidades filantrópicas interessadas em arrematar a peça para doá-la a algum museu, o que Mazzara concorda que seria o melhor destino para o pequeno sino, de apenas pouco mais de 25 centímetros de altura e com um grande buraco causado pela corrosão, após, segundo ele, “mais de cinco séculos debaixo d´água”.

“O valor dessa peça é histórico, não estético”, diz o italiano. “É o único objeto que esteve presente no dia da descoberta da América, um acontecimento que mudou a História do mundo para sempre”, argumenta.

Local secreto

Por isso, desde que levou o sino da Europa para os Estados Unidos, após uma intensa disputa jurídica, Mazzara vem mantendo a peça guardada “em local seguro”, em Miami (veja vídeo), onde ela será leiloada, em um evento privado, aberto apenas aos que se inscreverem e demonstrarem real interesse em pagar mais de R$ 31 milhões pelo objeto, que, apesar de tudo, não tem a unanimidade dos historiadores.

Será autêntico?

Embora Mazzara tenha documentos que, segundo ele, “comprovam a autenticidade do sino” – inclusive “análises metalográficas que atestam a idade da peça” , nem todos os estudiosos atestam que este pequeno sino de bronze tenha sido o que supostamente foi tocado por Colombo para anunciar a descoberta do Novo Mundo, mais de cinco séculos atrás nem mesmo se havia um sino na sua nau capitânia, a Santa Maria, embora isso fosse hábito na época.

Mas as evidências são favoráveis ao italiano.

Ele achou a peça quando vasculhava os escombros de um antigo galeão espanhol afundado em 1555 no litoral norte de Portugal, mas que não era da frota de Colombo o que torna a história desse sino ainda mais interessante e intrigante.

Como tudo começou

No dia de Natal de 1492, a nau capitânia da frota de Cristóvão Colombo, a Santa Maria, encalhou e afundou na costa do atual Haiti, quando retornava à Europa, após a descoberta da América pelo lendário navegador, dois meses antes.

Cinco séculos depois, em 1994, quando explorava os restos do galeão San Salvador no litoral português, Mazzara achou um pequeno sino, que, no entanto, era acanhado demais para uma nau tão grande.

Intrigado, ele resolveu investigar e, através de antigos documentos, descobriu que a San Salvador transportava mercadorias vindas do Caribe, entre elas um sino, que viera da Fortaleza Navidad, que fora criada por Colombo com os restos da sua nau naufragada, e seria entregue a um neto do navegador, na Espanha.

E foi este detalhe que levou o italiano a deduzir que aquele sino era o mesmo da nau de Colombo, e que estava sendo transportado pela San Salvador para ser entregue a família do descobridor.

Perseguição policial

Começava ali uma história cheia de polêmicas e reviravoltas, que virou até caso de polícia, quando o governo de Portugal mandou confiscar o sino às vésperas de um leilão que Mazzara faria, na Espanha, em 2002 – clique aqui para conhecer este vibrante caso, que teve lances dignos de filmes de ação.

Mazzara, então, fugiu com a peça para os Estados Unidos, onde, após ganhar da justiça espanhola a posse legal do objeto, agora tenta vendê-la em um leilão milionário, que qualquer um que esteja disposto a gastar mais de R$ 31 milhões pode participar.

Interessou?

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Inquérito conclui que navio com 4.200 carros novos tombou por falha humana http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/15/inquerito-conclui-que-navio-com-4-200-carros-novos-tombou-por-falha-humana/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/15/inquerito-conclui-que-navio-com-4-200-carros-novos-tombou-por-falha-humana/#respond Wed, 15 Sep 2021 17:30:07 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3402

Dois anos após tombar na saída do porto de Brunswick, no estado americano da Georgia, na madrugada de 8 de setembro de 2019, com preciosos 4 200 automóveis zero quilômetro a bordo, e um ano e meio depois do início dos conturbados trabalhos visando a sua remoção do local, finalmente foram divulgadas as causas do acidente que levaram o navio coreano MV Golden Ray, especializado no transporte de veículos, a protagonizar o acidente marítimo mais famoso dos Estados Unidos, nos últimos dois anos.

Segundo especialistas do Comitê Nacional Americano de Segurança no Transporte (National Transportation Safety Board – NTSB), responsável pelo inquérito que apurou o caso, a causa do bizarro acidente foi a combinação de “cálculo incorreto da estabilidade do navio”, gerado pela má distribuição da carga, após ele ter desembarcado 200 automóveis naquele porto, “com o esquecimento de duas portas estanques abertas no interior do casco”, o que permitiu que o navio inundasse e tombasse de vez, após inclinar por causa do peso mal distribuído dos automóveis que restaram no navio – todos irremediavelmente perdidos.

Duas falhas, em vez de uma

De acordo com a conclusão do inquérito, divulgada ontem nos Estados Unidos, “o chefe de operação do navio calculou erradamente a quantidade de água que deveria ser embarcada para servir de lastro e gerar estabilidade no casco, após desembarcar parte dos automóveis naquele porto, e não houve a dupla checagem desses dados por outro tripulante, a fim de garantir a segurança da operação”.

Segundo a entidade, pior até do que a falta de estabilidade do navio, foi outra falha da tripulação: o esquecimento de duas portas estanques deixadas abertas no interior do casco, quando o MV Golden Ray partiu do porto.

Elas permitiram que, ao inclinar e embarcar uma pequena quantidade de água, o navio inundasse completamente e não mais conseguisse retornar à posição normal, o que poderia ter acontecido se os compartimentos estivessem fechados, como mandam os regulamentos.

Esqueceram de fechar a porta

Segundo a NTSB informou, e a rede CNN divulgou, “as duas portas estanques foram deixadas abertas por quase duas horas quando o navio ainda estava no porto. Mas, ao partir, ninguém tratou de fechá-las”.

Felizmente, porém, ninguém se feriu no acidente, embora quatro tripulantes tenham ficado presos no interior da casa de máquinas do navio até o dia seguinte, quando as equipes de resgate abriram um buraco no casco para removê-los.

Carros valiam R$ 800 milhões

Como quase sempre acontece em casos de grandes acidentes, não houve apenas um motivo para o tombamento do navio, e sim a perversa combinação de duas falhas – ambas humanas: a má estabilidade causada pela falta de lastro e a não obediência aos padrões de segurança dos compartimentos estanques, que devem sempre estar fechados quando a embarcação estiver em movimento.

Combinadas, estas duas falhas geraram um extraordinário prejuízo, estimado em cerca de R$ 1,1 bilhão – a maior parte dele, cerca de R$ 800 milhões, referente aos 4 200 automóveis zero quilômetro, das marcas Hyundai e Kia, que estavam dentro do navio e foram destruídos, durante a complexa operação de remoção do navio, que já dura um ano e meio e foi feita da maneira mais incrível possível: fatiando o navio em pedaços, com os carros ainda dentro dele, para que possa ser removido.

Desde que começou, a operação virou notícia no mundo inteiro e gerou indignação e perplexidade nas pessoas: por que não remover os carros antes de picotar o navio?

A resposta é simples: não era possível fazer isso, porque o navio ficou completamente deitado no mar.

Picotaram o navio

Para fatiar o navio em oito pedaços (os dois últimos deles cortados na semana passada), foi usada uma colossal estrutura em forma de arco, feito uma gigantesca motoserra, que moveu poderosas correntes de aço, para cima e para baixo, para que o atrito cortasse o casco do MV Golden Ray, de quase 200 metros de comprimento e altura de um prédio de sete andares.

A operação deu certo, mas custou um ano e meio de trabalho (o que aumentou ainda mais o prejuízo dos donos do navio, que terão que pagar pelo serviço) e teve uma série de imprevistos, que incluíram vazamentos de óleo no mar e constantes incêndios causados pelo atrito das correntes com o aço do casco.

No começo, ainda havia a esperança de conseguir resgatar um ou outro automóvel de dentro do navio inundado. Mas logo ficou claro que isso seria impossível.

E os veículos acabaram sendo picotados junto com o navio – uma cena que, embora chocante, já era prevista pela equipe que fez o serviço.

Outro caso, pior ainda

Apesar da tentadora carga que havia nos porões do navio coreano – e o triste fim que ela teve -, não foi a primeira vez que um navio carregado de automóveis zero quilômetro foi vencido pelo mar e todos os carros perdidos.

Trinta e três anos atrás, em 1988, o encalhe e perda total do navio japonês Reijin, na praia da Madalena, no litoral norte de Portugal, abarrotado com 5 000 automóveis da marca Toyota, mais até do que a quantidade de carros que havia no MV Golden Ray, transformou o local em local de peregrinação dos portugueses, que tinham esperança de conseguir extrair algum veículo do navio sinistrado (clique aqui para conhecer esta história, que acabou de maneira ainda mais dramática, com o navio sendo propositalmente afundado).

Para os portugueses, tal qual os moradores da região onde o MV Golden Ray encalhou e teve que ser destruído, o sonho de conseguir um carro zero quilômetro de graça também morreu na praia.

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Mistérios no mar: desaparecimentos em Angra e no Caribe seguem sem solução http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/11/misterios-no-mar-desaparecimentos-em-angra-e-no-caribe-seguem-sem-solucao/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/11/misterios-no-mar-desaparecimentos-em-angra-e-no-caribe-seguem-sem-solucao/#respond Sat, 11 Sep 2021 07:00:29 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3390

Seis meses após desaparecer misteriosamente do barco no qual morava com o namorado, o destino da velejadora inglesa Sarm Heslop permanece ignorado.

E, mesmo meio ano depois, a polícia ainda não conseguiu executar o mais óbvio dos procedimentos em casos desse tipo: examinar o interior do barco do qual ela supostamente desapareceu.

O motivo disso é ainda mais bizarro: o principal suspeito, que é o próprio namorado, o americano Ryan Bane, dono do barco, não permite que a polícia entre nele para vistoriá-lo.

E, legalmente, nada pode ser feito para obrigá-lo a isso.

Caso parado há meio ano

O que pareceria ser mais um caso de escancarada omissão policial, tão comum nos países do chamado Terceiro Mundo, está ocorrendo, desde 8 de março deste ano (seis meses completados esta semana), em um dos paraísos do Caribe, as Ilhas Virgens Americanas.

Para desespero dos amigos e familiares da vítima, nada indica que a situação possa mudar, apesar da pressão até do governo da Inglaterra junto à polícia da ilha, já que a investigação não avançou em nada, justamente porque falta o mais básico dos procedimentos: interrogar o namorado e examinar o local onde o suposto desaparecido aconteceu, seis meses atrás – tempo, aliás, mais que suficiente para o principal suspeito já ter se livrado de qualquer evidência a bordo.

Impasse legal

Por trás desta aparente absurda situação (a polícia ser impedida, pelo próprio suspeito, de interrogá-lo e examinar o local) está a Quinta Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante a todo cidadão americano, como é o caso de Bane, o direito de permanecer calado, a fim de evitar a autoincriminação, e de exigir da polícia um mandado de busca, expedido por um juiz, antes de examinar uma propriedade privada, caso do barco onde o casal morava.

Até agora, nenhum juiz das Ilhas Virgens Americanas concordou em expedir o documento, sob a alegação de que a polícia deve, primeiro, fornecer elementos que justifiquem a suspeita sobre o namorado e a busca no interior do barco.

Criou-se, então, o impasse: a polícia precisaria examinar o interior do barco para colher evidências que incriminassem o suspeito, mas os juízes dizem que só autorizarão isso se a polícia apresentar evidências do envolvimento dele no caso. Enquanto isso, nada acontece.

Recompensa de R$ 70 mil

Esta semana, ao completar meio ano desde o desaparecimento da inglesa, os amigos de Sarm Heslop, uma ex-comissária aérea, de 41 anos, que vivia com Bane no barco dele desde o final do ano passado, anunciaram na internet uma recompensa equivalente a R$ 70 mil para quem fornecer alguma pista sobre o caso.

Mas, desde março, nada de novo acontece no caso, que segue parado.

O único que poderia fornecer detalhes e ajudar a esclarecer o caso não permite ser interrogado pela polícia, nem ter o seu barco vistoriado segundo o seu advogado, por “não confiar nos policiais e temer que eles ‘plantem’ provas contra ele a bordo”.

“É uma situação cruel demais”, disse à TV inglesa BBC a mãe da vítima, Brenda Street. “Há meses que eu me sinto culpada sempre que, por algum motivo, dou um pequeno sorriso. Não é justo não investigarem o que aconteceu com a minha filha. Eu apelo à consciência dos envolvidos. Só eles podem ajudar nisso”.

O que se sabe sobre o caso

A inglesa Sarm Heslop está desaparecida desde a madrugada de 8 de março, quando o seu namorado ligou para a Guarda Costeira das Ilhas Virgens dizendo que ela havia desaparecido do barco, um bonito catamarã de 15 metros de comprimento, chamado Siren Song (“Canto da Sereia”, em português), então ancorado a menos de 100 metros da praia de Frank Bay, na Ilha de Saint John, uma das Ilhas Virgens Americanas.

Mas, estranhamente, ele só relatou o desaparecimento à polícia por volta da hora do almoço, quase dez horas depois – e após também ter negado o acesso ao interior do barco aos agentes da Guarda Costeira que responderam ao seu chamado.

Por que impedir a entrada no barco e a demora em comunicar o fato à polícia são algumas perguntas ainda sem resposta neste estranho caso.

E justiça da ilha pouco tem feito para ajudar a esclarecê-las.

“Sem um mandato de busca, nós simplesmente não podemos entrar no barco”, explicou o porta voz da polícia local.

“Acho que ela caiu no mar”

De acordo com o que Ryan Bane disse à polícia, pelo telefone, no dia em que comunicou o desaparecimento da namorada, o casal havia ido dormir por volta das 22h00, “após sair para jantar em terra firme” e, no meio da madrugada, quando ele acordou, “ela não estava mais a bordo”.

“Acho que ela caiu no mar”, disse ele às autoridades, aparentemente sem maiores detalhes.

Segundo Bane, todos os pertences da namorada, inclusive o celular e passaporte, continuavam no barco, o que, ao menos a princípio, descartava a hipótese de ela ter fugido.

Por que demorou tanto?

Uma das hipóteses para a demora de Bane em contatar a polícia (quando a Guarda Costeira chegou, ele também não permitiu que os agentes entrassem na cabine do barco) é que ele precisaria de tempo para ocultar eventuais provas, ou se recuperar fisicamente, já que o casal poderia ter consumido drogas na noite anterior, o que, inclusive, poderia explicar uma eventual queda involuntária de Sarm ao mar, durante a madrugada.

Mas, se foi um acidente, por que o namorado demorou tanto para dar o alarme?

“Meu cliente está devastado com o desaparecimento da namorada”, diz apenas o advogado de Bane, que continua morando no barco, na mesma ilha, mas, segundo a própria polícia, “está livre para partir, se desejar, porque legalmente não há nenhuma acusação contra ele”.

“Isso é ultrajante”, diz Brenda Street, que, apesar de tudo, ainda acredita que a filha possa estar viva, seis meses depois.

“Se ela já tivesse partido deste mundo, eu sentiria”, garante, desconsolada, a mãe da vítima, querendo demonstrar algum otimismo em algo que ninguém mais acredita.

Enquanto isso, em Angra dos Reis…

O desaparecimento de pessoas no mar é sempre intrigante e angustiante.

E quando o corpo não acontece, dá margem a todo tipo de interpretação.

Nesta sexta-feira, ao mesmo tempo em que familiares de Sarm Heslop seguiam lamentando a falta de iniciativa das autoridades das Ilhas Virgens em investigar com profundidade o sumiço da inglesa, do outro lado do hemisfério, no Rio de Janeiro, a família do carioca Leonardo Machado, que está desaparecido há 20 dias, após ter saído de barco com a ex-companheira Cristiane Nogueira para ver o por-do sol no mar, na Ilha Grande, região de Angra dos Reis, foi avisada que as buscas, tanto do corpo dele (o dela foi encontrado nove dias depois) quanto do barco que ocupavam (que supostamente afundou em local desconhecido) foram suspensas e só serão retomadas “se surgirem novos fatos”.

“Ficamos desolados com a notícia do fim das buscas. Agora, não sabemos o que fazer”, diz a ex-esposa de Leonardo, mãe de uma de suas duas filhas.

A polícia, no entanto, garante que a investigação sobre o que aconteceu com o casal continua, e que ainda não descartou nenhuma hipótese neste também intrigante caso – nem mesmo de ter havido um crime passional, como pode ser conferido clicando aqui.

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O que pode ter acontecido com o casal de Angra do Reis? O mistério continua http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/06/o-que-pode-ter-acontecido-com-o-casal-de-angra-do-reis-o-misterio-continua/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/06/o-que-pode-ter-acontecido-com-o-casal-de-angra-do-reis-o-misterio-continua/#respond Mon, 06 Sep 2021 16:36:40 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3381

Quinze dias atrás, no final da tarde de domingo, 22 de agosto, o casal carioca Cristiane Nogueira da Silva, de 48 anos, e Leonardo Machado de Andrade, de 50, embarcaram na traineira Novo Milênio I, que pertencia a ele, e partiram, só os dois, da Praia da Longa, na Ilha Grande, no litoral sul do Rio de Janeiro, para apreciar o pôr do sol na vizinha Lagoa Verde, a pouco mais de um quilômetro de distância.

E desapareceram – bem como o barco no qual estavam.

Nove dias depois, o corpo de Cristiane surgiu em uma parte erma da Baía de Mangaratiba, a quilômetros de distância do ponto para o qual supostamente haviam partido, assim como dois itens que pertenciam ao barco, mas em áreas opostas – o que, juntamente com um intrigante foguete sinalizador avistado na região na noite seguinte ao desaparecimento, deu ao caso ares de mistério.

Embora a causa mais provável ainda seja um simples naufrágio, outras hipóteses ainda estão sendo consideradas pela polícia.

Como estas aqui.

Hipótese mais provável: naufrágio

Desde o princípio, a hipótese de o barco ter afundado e causado a morte por afogamento do casal é apontada, por todos, como a mais provável.

Mesmo assim, algumas dúvidas seguem no ar.

A mais óbvia é: se o barco afundou, onde ele está?

Vestígios em lados opostos

Desde o ocorrido, a polícia garante que a Marinha segue vasculhando toda a região, que é bem grande, já que mais de 50 quilômetros de mar separam a Lagoa Verde da baía da Marambaia, onde o corpo de Cristiane foi encontrado.

E, até agora, meio mês depois, tudo o que foi encontrado foi uma janela e duas boias do barco, boiando no mar.

Só que em locais opostos, o que confunde ainda mais as buscas pelo barco supostamente afundado.

Culpa da correnteza?

A janela, segundo a polícia, foi encontrada na Lagoa Verde, na Ilha Grande – um claro indicativo da área onde a traineira teria afundado.

Já as duas boias apareceram na baía de Marambaia, área oposta à da lagoa, mas a mesma onde apareceu o corpo de Cristiane, e aparentemente pelo mesmo motivo: a influência da correnteza, que teria arrastado corpo e boias da Ilha Grande para lá – algo bem comum de acontecer na região.

A polêmica do sinalizador

Para complicar ainda mais as buscas pelo barco, no início da noite do dia seguinte ao desaparecimento do casal, um grupo de amigos filmou o disparo de um foguete sinalizador, equipamento náutico usado para pedir socorro no mar, na região da Marambaia.

Aquele foguete poderia ter sido disparado do barco do casal, como um pedido de socorro.

Embora o autor do vídeo diga que entrou em contato com os Bombeiros para avisar sobre o estranho sinal, aparentemente, na mesma noite, nenhuma busca na região foi feita.

“A polícia só foi para lá dias depois, quando o corpo da Cristiane apareceu”, lamenta a ex-esposa de Leonardo, Vanessa Morett, com que o casal mantinha um ótimo relacionamento.

Isso, para mim, é inadmissível. Disparar um sinalizador era algo que o Leonardo faria com certeza, numa situação daquelas. Ele era obcecado por segurança, especialmente no mar. Vivia treinando a gente para situações de emergência”, recorda.

Teria vindo de outro barco?

Não há como relacionar o disparo do tal foguete com o barco do casal – pode ter sido um disparo acidental ou brincadeira vinda de outro barco, já que não são raros os donos de embarcações que usam erradamente aquele tipo de sinalizador como foguetes de comemoração.

Além disso, como explicar que a janela do barco tenha sido encontrada a dezenas de quilômetros de lá, na Lagoa Verde, no sentido contrário ao da correnteza?

Achar o barco é fundamental

Ainda assim, a divulgação do tal foguete sinalizador, que só pipocou nas redes sociais dias depois, levou a polícia e a Marinha a ampliar as buscas pelo barco em muitos quilômetros quadrados, aumentando assim também as chances de não encontrá-lo – porque, quanto maior for a área, mais difícil será o trabalho.

Achar o barco é fundamental”, diz o delegado Vilson de Almeida Silva, da 166ª Delegacia Policial de Angra dos Reis, encarregado do caso. “Só a partir dele será possível entender o que aconteceu com o casal. Estamos concentrados nisso”.

Buscas concentradas

Desde então, todas as buscas, tanto do barco quanto do corpo que falta, passaram a ser concentradas na região de Marambaia, a mesma do tal foguete, a despeito daquela enigmática janela do barco ter sido encontrada na direção oposta.

E isso, talvez, faça com que o barco jamais seja encontrado.

Se é que ele afundou de fato…

Corpo sem salva-vidas

Já a segunda dúvida que paira sob a hipótese de naufrágio é por que o corpo de Cristiane não estava com um colete salva-vidas quando foi encontrado, uma vez que vestir este equipamento costuma ser a primeira providência em casos desse tipo – sobretudo para alguém tão atento às questões de segurança, quando a primeira esposa garante que era o ex-marido.

“O Leonardo jamais deixaria a Cristiane ir para o mar sem um colete. É algo totalmente incompatível com os hábitos dele”, garante Vanessa, mãe da primeira das duas filhas que ele teve.

Por que não foi usado?

Para reforçar o argumento de Vanessa, uma foto da traineira usada pelo casal que circulou nas redes sociais, mostra claramente muitos coletes salva-vidas armazenados debaixo da cobertura do convés, além de duas boias salva-vidas penduradas na lateral da cabine – as mesmas que foram encontradas na baía de Marambaia, na semana passada.

Por que estes equipamentos de segurança não foram usados pelas vítimas no eventual naufrágio?

Uma das hipóteses é que o naufrágio tenha sido tão fulminante que não houve tempo para nada – mas como teria dado tempo de disparar o tal foguete sinalizador?

Outra hipótese é que as duas boias encontradas no mar tenham se desprendido naturalmente do barco quando ele afundou, já que elas estavam apenas penduradas na lateral da cabine – e, no escuro da noite, não tenham sido agarradas pelos náufragos.

Isso se houve, de fato, um naufrágio – e se aquele foguete estava relacionado a ele.

Quebra do barco?

A possibilidade de haver uma relação direta entre o disparo do foguete sinalizador e o barco do casal, 24 horas depois do desaparecimento deles, só se explicaria se a embarcação tivesse tido algum problema (quebra do motor ou inundação parcial – o que explicaria aquela janela encontrada no mar…), e ficasse à deriva durante toda a noite e também ao longo do dia seguinte inteiro, sendo levada pela correnteza, na direção da baía de Marambaia.

No entanto, logo no dia seguinte ao desaparecimento do casal, um helicóptero sobrevoou a região e não encontrou nenhum sinal da traineira – que não poderia ter ido tão longe, em tão pouco tempo, levada apenas pela correnteza.

Além disso, é pouco provável que outro barco não tivesse visto a traineira à deriva, durante todo o dia, em uma das áreas mais movimentadas da região.

A menos que o barco do casal já não estivesse mais na superfície – o que, no entanto, eliminaria de vez a relação dele com aquele foguete, na noite de segunda-feira.

Ou, então, que o foguete não estivesse no barco e sim com um dos náufragos no mar…

Assalto e latrocínio no mar?

“O Leonardo era muito ligado em questões de sobrevivência e sempre mantinha uma mochila pronta, para qualquer emergência”, garante a ex-esposa. “Era algo bem típico dele”.

Além da hipótese de naufrágio instantâneo, causado por algum acidente – tese defendida pela maioria das pessoas –, Vanessa também não descarta a possibilidade de o casal ter sido vítima de um assalto e roubo do barco no mar.

Antes de sair de casa, Leonardo teria confidenciado a um amigo vizinho que, após assistir ao pôr-do-sol, pretendia “namorar” um pouco no barco, ou seja, já na parte da noite.

Isso pode ter deixado o casal desatento, além de levá-los para o interior da cabine, sem, portanto, visão externa de uma eventual movimentação ao redor do barco – situação na qual poderiam ser facilmente dominados por ladrões.

A opinião da ex-esposa

A tese de assalto seguido de latrocínio também explicaria por que o corpo de Cristiane fora encontrado sem um colete salva-vidas, equipamento que o barco tinha em profusão e algo que a ex-esposa de Leonardo garante ser totalmente incompatível com os hábitos do ex-marido.

Mas é contraditória com as duas boias encontradas no mar.

Ainda assim, Vanessa mantém sua opinião:

“Para mim, ou eles sofreram um naufrágio fulminante ou foram assaltados e jogados ao mar”, diz.

Golpe nas famílias

Tão logo o desaparecimento do casal foi noticiado, o filho de Cristiane, Guilherme Brito, recebeu ligações de supostos sequestradores, que diziam estar com as duas vítimas e pediam resgate.

Mas era golpe: bandidos estavam se aproveitando do desespero da família para tentar extorquir dinheiro.

Ou outro tipo de golpe?

Embora a hipótese de o casal ter sido vítima de assalto, seguido de roubo do barco e arremesso deles ao mar não tenha sido abandonada pela polícia (“ainda não descartamos nenhuma hipótese”, diz o delegado encarregado do caso), o surgimento das duas boias do barco, na semana passada, enfraqueceu essa tese – e reforçou ainda mais a de um simples naufrágio.

Ou, então, a de um golpe muito bem arquitetado…

Crime passional?

Cristiane e Leonardo vinham ensaiando uma reconciliação há tempos, após dois anos separados de uma união que durara mais de oito.

Foi com esse intuito que o casal decidiu passar um fim de semana junto, na mesma na praia onde Leonardo vinha morando há cerca de dois anos, desde que deixara o Rio de Janeiro e passou a se dedicar a consertar barcos.

Cristiane veio, então, de Salvador, onde estava morando, para encontrar o ex-companheiro, com quem vinha mantendo um bom relacionamento à distância.

Se algo aconteceu entre eles na noite do desaparecimento, não se sabe.

Mas câmeras de segurança da casa mostraram os dois saindo, para embarcar no barco, no final da tarde do dia em que desapareceram, em perfeita harmonia.

“De jeito algum acredito em crime passional ou feminicídio”, garante Vanessa. “O Leonardo jamais foi violento”.

Vítima do companheiro?

Ainda assim, a polícia também não descarta a hipótese de Cristiane ter sido vítima do ex-companheiro.

Segundo esta linha de raciocínio, ele poderia tê-la jogado ao mar, antes de fugir com o barco e simular um naufrágio – neste caso, a janela e as duas boias encontradas no mar fariam parte de uma encenação.

Ou, então, ter intencionalmente provocado o naufrágio.

Isso explicaria por que o corpo de Leonardo ainda não foi encontrado, bem como o barco – embora, casos desse tipo não sejam nada raro de acontecer no mar.

Quebra de sigilo

O fato de os documentos e celular de Leonardo não terem sido encontrados na casa (ao contrário dos de Cristiane), levou a polícia a pedir a quebra do sigilo telefônico e rastreio do aparelho dele.

Mas nada ainda foi provado.

“Não se trata de acusar uma vítima, mas é preciso investigar todas as possibilidades”, argumenta a polícia.

O pior é não saber

“A cada dia que passa, só nos resta torcer para que o corpo do Leonardo apareça também, e essa triste história tenha um fim”, diz Vanessa.

“Para nós, o pior de tudo é não saber o que aconteceu”, diz.

Para a polícia, também.

Caso ainda mais misterioso

Essa não foi a primeira vez que um caso misterioso ocorrido no mar desafia a polícia de Angra dos Reis.

Três anos atrás, um caso ainda mais intrigante, que envolveu a morte de um argentino, dono de um veleiro que foi encontrado vazio e à deriva na mesma região onde apareceu o corpo de Cristiane, gerou inúmeras especulações.

Mas, até hoje, não teve uma explicação – clique aqui para conhecer este caso, ainda mais enigmático.

Espera-se que a história não se repita. Mas, enquanto isso, segue a dúvida: o que aconteceu com o casal de Angra dos Reis?

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STF decide que Alemanha pode ser julgada por barco afundado por nazistas http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/01/stf-decide-que-alemanha-pode-ser-julgada-por-barco-afundado-por-nazistas/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/09/01/stf-decide-que-alemanha-pode-ser-julgada-por-barco-afundado-por-nazistas/#respond Wed, 01 Sep 2021 16:42:08 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3371

Em uma decisão apertada, por um placar de 6 a 5 em plenário virtual, o Supremo Tribunal Federal acaba de decidir um caso inédito: o direito de um pequeno grupo de descendentes de humildes pescadores do litoral norte do Rio de Janeiro de pedir ressarcimento ao governo da Alemanha por um crime cometido contra seus parentes, ainda na Segunda Guerra Mundial.

A ação, que se arrasta na Justiça do Rio de Janeiro há 20 anos – e há cinco aguardava um parecer da Suprema Corte, dado o ineditismo do caso – remonta a um fato ocorrido 78 anos atrás, quando o barco pesqueiro Changri-Lá, com dez pescadores a bordo, foi atacado, metralhado e afundado pelo submarino nazista U-199 no litoral de Cabo Frio, no dia 22 de julho de 1943.

Nenhum deles sobreviveu.

Agora, com a decisão do STF, que validou a legitimidade do pedido, os descendentes das vítimas (cinco filhas diretas, a mais nova já com 80 anos de idade, e uma grande quantidade de netos, uma vez que a maioria dos descendentes diretos das vítimas também já morreu) poderão dar continuidade a ação, que é inédita no Brasil.

Herdeiros já octogenários

A decisão foi comemorada tanto pelo advogado carioca Luiz Roberto Leven Siano, que defende voluntariamente os descendentes das vítimas (clique aqui para ver o vídeo) quanto, obviamente, pelos parentes dos pescadores mortos, todos moradores da região de Arraial do Cabo, no litoral norte do Rio de Janeiro, que, de tanto esperar, já nem contavam mais com a possibilidade de sucesso no caso.

“Ficamos felizes, claro, mas já estamos esperando há tanto tempo que é até difícil acreditar que esse caso, um dia, vai ser resolvido. Já nem conto muito mais com isso e trato de esquecer”, diz Nilça Aguiar da Costa, de 80 anos, filha de um dos dez pescadores mortos no ataque, que tinha apenas dois anos de idade quando o fato aconteceu.

Suas duas irmãs, Djacira e Maria de Lurdes, também estão vivas, mas com idades ainda mais avançadas: 84 e 90 anos de idade, respectivamente.

“Não sei se vamos estar vivas para ver o desfecho desse processo”, diz Nilça.

“Meu irmão já morreu e deixou três filhas doentes, que a gente cuida como pode. Até porque a Marinha parou de pagar a pensão que recebíamos como herdeiras de ex-combatente, como meu pai passou a ser considerado depois que o ataque ao barco dele foi comprovado, mas isso só aconteceu mais de 50 anos depois”.

Esquecido por mais de meio século

Nilça refere-se a um fato ainda mais cruel do que o lento avanço do caso na justiça brasileira: o não reconhecimento do ataque do submarino alemão ao barco dos pescadores brasileiros por mais de meio século.

Embora o afundamento do barco, na região de Cabo Frio, tenha ocorrido na Segunda Guerra Mundial, ele só reconhecido no final dos anos de 1990, quando o historiador carioca Elísio Gomes Filho conseguiu ter acesso ao depoimento dado pelo comandante do submarino, Hans Werner Kraus, ao governo americano, após sua prisão, onde ele admitia o ataque ao barco dos pescadores brasileiros.

Com base nisso, o Tribunal Marítimo Brasileiro, que na época havia registrado o afundamento do barco pesqueiro como um simples caso de naufrágio, reabriu o processo, e, em 2001, alterou a causa para ataque de guerra.

Os nomes dos dez pescadores mortos foram incluídos no Panteão dos Heróis de Guerra, no Rio de Janeiro, e o nome do barco passou a batizar informalmente a orla de uma das praias de Arraial do Cabo: Changri-Lá.

Bem antes disso, no entanto, os descendentes das vítimas, mesmo não sendo parentes, já se consideravam membros de uma mesma família: a família Changri-Lá, como se identificam até hoje.

Pode gerar incidente diplomático?

No julgamento, os ministros do STF decidiram, ainda que pela magra diferença de apenas um voto, que os herdeiros têm direito a continuidade da ação que movem contra do governo da Alemanha, por não haver “ato legítimo de império” (ou seja, a impossibilidade de um país ser julgado por outro contra à sua vontade) em casos de crime contra a humanidade, como a maioria dos juízes entendeu ser o caso dos pescadores brasileiros mortos no ataque.

O plenário concluiu que Estados estrangeiros que pratiquem atos em violação aos direitos humanos não gozam de imunidade de jurisdição no Brasil e, assim sendo, podem responder judicialmente por eles.

O relator do caso foi o ministro Edson Fachin, que foi acompanhado por Rosa Weber, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Luís Roberto Barroso.

Já o ministro Gilmar Mendes, que votou contra, bem como os demais ministros, alertou para o risco de o caso poder criar um “incidente diplomático” entre Brasil e Alemanha.

“Decisão histórica”

“A decisão foi correta, porque, quando se trata de direitos humanos, os processos podem, sim, ser julgados à revelia”, diz o advogado dos herdeiros, que considerou a sessão de do STF histórica, “porque julgou um paradigma, algo que nunca aconteceu antes, e que permitirá, pela primeira vez, que um crime de guerra seja julgado no Brasil, tanto tempo depois”.

“As famílias, agora, ganharam o direito legal de processar o governo da Alemanha”, resume o advogado, que aceitou defender a causa sem cobrar honorários, já que se tratam de “pessoas muito humildes, que passaram a vida inteira sendo injustiçadas”.

“Vai ajudar outras pessoas”

Mas o que deixou Siano ainda mais satisfeito foi que a decisão do STF gerou uma “repercussão geral”, ou seja, passou a ter poder de lei e servirá de jurisprudência para outros casos envolvendo violação de direitos humanos de brasileiros por outras nações, “permitindo que elas sejam processadas aqui mesmo, no Brasil”.

“Isso vai ajudar outras pessoas”, diz o advogado, que, no entanto, ainda não dá o caso dos pescadores como ganho.

Indenização milionária

“A decisão do STF apenas derruba a barreira que vinha impedindo o prosseguimento da ação. Agora, ela voltará a correr na Justiça do Rio de Janeiro, onde vamos tentar um acordo com o governo da Alemanha, para que os herdeiros das vítimas sejam indenizados”, explica.

Na inusitada ação, o advogado Siano, que é especialista em direito internacional, já foi piloto de navio e espera assumir, em breve, a presidência do clube de futebol Vasco da Gama, pede indenização de R$ 1 milhão para cada um dos herdeiros, “mas reajustados desde a época dos fatos”. Ou seja, com valores corrigidos desde 1943.

“Nem sei quanto isso daria em dinheiro de hoje”, confessa. “Mas aquelas pessoas merecem”

“Mesmo sendo tempos de guerra, não é correto o que aquele submarino fez com os pescadores. Houve crime contra os direitos humanos e o STF julgou acertadamente”, diz o advogado.

A história do ataque

Das 34 embarcações brasileiras afundadas durante a Segunda Guerra Mundial, o simplório pesqueiro Changri-Lá sempre foi o caso menos conhecido, já que se tratava de um simples barco de pesca.

Tanto que, na época, ninguém cogitou que ele pudesse ter sido vítima de um submarino alemão, e o inquérito que investigou o caso o classificou como sendo apenas naufrágio, causado pelo mar.

No entanto, a história daqueles infelizes pescadores foi bem mais dramática, como pode ser conferido clicando aqui.

“Agora, vamos buscar a devida indenização às famílias das vítimas”, diz o advogado que defende os descendentes dos pescadores.

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Velejador parte para tentar o recorde da volta ao mundo nos dois sentidos http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/28/velejador-parte-para-tentar-o-recorde-da-volta-ao-mundo-nos-dois-sentidos/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/28/velejador-parte-para-tentar-o-recorde-da-volta-ao-mundo-nos-dois-sentidos/#respond Sat, 28 Aug 2021 07:00:18 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3360

Fotos Divulgação/Ant Artic Lab

Neste exato momento, em algum ponto do gelado Mar do Norte, já dentro dos limites do Círculo Polar do Ártico, um velejador está correndo contra o tempo, navegando, sozinho, dia e noite sem parar.

E ele pretende continuar assim, neste ritmo intenso, sem nenhuma parada para descanso, pelos próximos cinco meses, a fim de atingir o seu objetivo: bater o recorde mundial da volta ao mundo a vela mais completa que existe – aquela que atravessa o planeta nos dois sentidos.

Ele não quer apenas atravessar o planeta de um lado a outro, mas, também, de cima a baixo, o que pretende fazer em 165 dias consecutivos no mar, velejando sem parar.

Tem 59 anos

Bater este recorde, talvez o mais desgastante que existe no mundo da vela, tornou-se, há tempos, o principal desejo do velejador austríaco Norbert Koch, hoje com 59 anos.

Mas Koch só começou a botar o plano em prática na semana passada, quando partiu da cidade francesa de Les Sables D´Olonne, com a meta de retornar ao mesmo ponto no menor tempo possível, mas só após ter navegado nos cinco oceanos e – diferencial que tornará o seu feito ainda mais especial, caso consiga… – também os dois polos do planeta: o Ártico, no extremo Norte, e a Antártica, no Sul, ambos na mesma viagem.

Isso, poucos já fizeram.

Polos Sul e Norte

A esmagadora maioria dos velejadores que decide dar a volta ao mundo navegando contra o relógio, desafio cada vez mais popular entre os grandes navegadores, costuma cumprir um roteiro quase reto, de oeste para leste, visando varar o planeta na menor distância possível.

Já o austríaco pretende fazer o oposto disso e contornar a Terra da maneira mais longa – e difícil –, com a inclusão das regiões dos dois polos no roteiro.

Também de cima a baíxo

“É como se ele fosse cruzar o planeta duas vezes: uma na horizontal, outra na vertical”, define um membro da equipe de apoio, que ficará de plantão em terra-firme, monitorando o avanço do velejador via satélite – o que qualquer pessoa também pode fazer, em tempo real, através do site da expedição.

Koch já atingiu os limites do Mar do Ártico (veja aqui onde ele está neste momento), deu meia volta e agora iniciará a descida do Atlântico, rumo a ponta da África, onde ingressará no Oceano Índico, depois no Pacífico e, após tocar o mar antártico, regressará à mesma cidade de onde partiu, no último dia 15.

Uma vez e meia a Terra

No total, Koch, um ex-condutor de bondes em Viena, onde nasceu, e que só descobriu sua paixão pela navegação aos 35 anos de idade, irá percorrer uma distância de 58 000 quilômetros navegando, ou quase uma vez e meia a circunferência da Terra, sem nenhum tipo de assistência no mar, a fim de bater o recorde.

Mas, para ele, tão relevante quanto conseguir o feito será alcançá-lo com o tipo de barco com o qual navega – um veleiro de quase 19 metros de comprimento, totalmente auto-sustentável e construído apenas com materiais recicláveis.

Nenhuma gota de combustível

Batizado de Innovation (“Inovação”, em inglês), o barco do austríaco não usa uma gota de combustível fóssil, possui dois motores elétricos que são alimentados por um hidrogerador (que, quando o barco está velejando, transforma a água que passa pelo casco em energia que pode ser armazenada), e é repleto de placas solares para o consumo interno.

“Este veleiro é como uma usina”, brinca um engenheiro que fez parte do projeto, batizado de Ant Arctic Lab, ou “Laboratório da Formiga do Ártico”. “Ele produz a própria energia que usa. Sem falar que é movido apenas pelo vento”.

Feito de pedra de vulcão

Além disso, o casco do barco do austríaco foi construído com um novo tipo de material, chamado “fibra vulcânica”, feito a partir de rochas moídas expelidas de vulcões, com enorme dureza e resistência à tração.

E com este veleiro, totalmente ecosustentável, que Koch pretende entrar para a história dos recordes da navegação à vela.

Já deu três voltas ao mundo

Experiência para isso, ele tem.

Koch já teu três voltas ao mundo velejando, e, 20 anos atrás, passou três meses contornando, também sem parar, toda a Antártica, berço dos ventos mais violentos do mundo.

Agora, ele espera que a força da natureza também o ajude a bater o recorde que tanto almeja, pois dependerá da intensidade dos ventos para navegar rápido.

Desde a semana passada, o austríaco navega sem parar, correndo o tempo todo contra o relógio, visando atravessar o planeta nos dois sentidos no menor tempo possível – um desafio e tanto, sobretudo para quem já soma 59 anos de idade.

Idade não é problema

Se conseguir o recorde à beira de se tornar um sexagenário, Koch igualará outros feitos marcantes alcançados por velejadores que há muito haviam deixado de ser jovens atletas.

Um dos mais emblemáticos foi o americano Dodge Morgan, um ex-empresário que, ao se aposentar, em 1985, aos 53 anos de idade, botou na cabeça que iria se tornar o homem a dar a volta ao mundo pelo mar mais rápida da História, e partiu determinado a bater o recorde, que, até então, era de 292 dias.

Pois Morgan não só conseguiu o feito, como trucidou o antigo recorde, fazendo a travessia em praticamente metade do tempo, para surpresa dos próprios filhos e netos (clique aqui para ler esta interessante história).

Agora, Koch que ir ainda mais longe, e em menos tempo. Resta saber se a natureza permitirá isso.

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Sonar acha navio ainda não identificado partido ao meio no fundo do mar http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/25/sonar-acha-navio-ainda-nao-identificado-partido-ao-meio-no-fundo-do-mar/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/25/sonar-acha-navio-ainda-nao-identificado-partido-ao-meio-no-fundo-do-mar/#respond Wed, 25 Aug 2021 07:00:52 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3352

Divulgação Equinor

Um mês e meio depois que uma pesquisa submarina de rotina em uma área do fundo do mar conhecida como Bacia de Flemish, a cerca de 500 quilômetros da costa da província de Terra Nova, na costa nordeste do Canadá, revelou a existência de um intrigante navio de aço partido ao meio, a 1 200 metros de profundidade, os pesquisadores seguem se perguntando: que navio é aquele?

Até agora, eles não sabem.

Não há nenhum registro de naufrágio de navio de grande porte no local, nem alerta de desaparecimento de embarcação semelhante na região, nas últimas décadas.

E para deixar ainda mais frustrados os pesquisadores de naufrágios, a empresa que fez a descoberta, contratada pela gigante norueguesa do setor de energia Equinor para prospectar novos campos de petróleo naquela área, já avisou que não irá retornar ao local no naufrágio a fim de coletar mais imagens do navio com o seu robô submarino, responsável pelo intrigante achado, no último dia 13 de julho.

Seria fácil identificá-lo

“É uma pena que novas imagens não serão feitas, porque, embora partido ao meio, o navio está inteiro, e seria fácil identificá-lo”, diz o presidente da Associação de Preservação de Naufrágios da Terra Nova, Neil Burgess.

Cabe a ele, agora, a espinhosa missão de tentar identificar o navio, a partir das duas únicas imagens que o sonar do robô submarino produziu do naufrágio.

Pode ser da Segunda Guerra Mundial

Divulgação Equinor

“Pelo tipo de convés que a foto e a imagem do sonar mostram, tanto pode ser um petroleiro da metade do século passado quanto um navio cargueiro usado nos comboios navais da Segunda Guerra Mundial, que costumavam cruzar da América para a Europa por aquela região do Atlântico Norte”, avalia o pesquisador.

“O fato de ele estar partido ao meio, pode ter sido consequência de disparos de torpedos por submarinos alemães, o que era frequente naquele tipo de comboio”, arrisca Burgess.

Uma das suspeitas levantadas na Internet por pesquisadores amadores de naufrágios é que o misterioso navio seja o petroleiro americano Atlantic Sun, que foi torpedeado e afundado por um submarino alemão em 17 de fevereiro de 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, tendo apenas um único sobrevivente.

Mas isso não é certo.

Pessoas teriam morrido?

“Certo mesmo é que era um navio de grande porte, porque só a parte visível na foto, que corresponde a metade do casco, mede 80 metros de comprimento por 20 de largura.

“Não era um barco pequeno e insignificante, o torna a ausência de registros do seu naufrágio ainda mais instigante”, diz o pesquisador, que acrescenta:

“É impossível olhar para a imagem do navio partido ao meio no fundo do mar e não ficar imaginando se pessoas morreram no naufrágio e quem seriam elas?”, diz Burgess, emocionado.

Para ele, no entanto, é possível que os restos do naufrágio sejam os de um navio já conhecido, mas erroneamente registrado como tendo afundado em outro local.

“Vamos ter que pesquisar isso a fundo”, diz.

Achou e foi embora

Após localizar e registrar os restos do navio, a empresa que faz a descoberta apenas avisou a Guarda Costeira do Canadá e os governos das províncias de Labrador e Terra Nova e foi em frente, pesquisar outras áreas.

“Não era o que estávamos procurando”, disse o responsável pela empresa de pesquisa, Tom McKeever.

“Mas até nós ficamos excitados com o achado e curiosos em saber que navio era aquele?”.

Mesma região do Titanic

Para aumentar ainda mais o suspense, a região onde o naufrágio foi encontrado é famosa por ser uma habitual rota de deslocamento de grandes icebergs no inverno, e não muito distante do local onde afundou o Titanic, após bater em um daqueles colossais blocos de gelo.

“Será que foi também um iceberg que partiu o navio ao meio?”, especula o pesquisador.

Uma grande surpresa

A descoberta acidental de naufrágios é bem mais comum do que parece.

“Qualquer pessoa ficaria chocada com a quantidade de navios que afundaram no Atlântico Norte apenas no século passado”, atesta Tom McKeever, o primeiro a ver as imagens do navio misterioso feitas pelo robô submarino.

“Nós já tínhamos achado outros naufrágios, mas nenhum desse porte. Foi uma grande surpresa. Mas nosso objetivo era outro e seguimos em frente, após avisar os órgãos competentes”.

Em vez do avião, um navio

Também não foi a primeira vez que a descoberta de um enigmático naufrágio alterou os planos de quem o achou.

Wikipedia

Sete anos atrás, quando realizavam buscas pelo avião da Malaysia Airlines, do voo MH 370, misteriosamente desaparecido no Oceano Índico, após se afastar completamente da sua rota – fato que, até hoje, não teve uma explicação -, os sonares das equipes de buscas encontraram, acidentalmente, um velho navio afundado na área que pesquisavam.

Mas, como aquele não era o foco da missão, o achado foi ignorado, embora tudo indicasse que se tratava de uma embarcação que teria afundado há mais de um século, embora sem nenhum registro – clique aqui para ler sobre este caso.

“Todo naufrágio tem uma história a contar”, resume o pesquisador agora encarregado de responder a uma pergunta igualmente instigante: que navio é aquele que jaz partido ao meio no fundo do Atlântico?

 

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No fundo mar: veja imagens do veleiro que afundou com uma casa dentro dele http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/18/no-fundo-mar-veja-imagens-do-veleiro-que-afundou-com-uma-casa-dentro-dele/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/18/no-fundo-mar-veja-imagens-do-veleiro-que-afundou-com-uma-casa-dentro-dele/#respond Wed, 18 Aug 2021 07:00:51 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3333

Duas semanas atrás, na madrugada do último dia 5 de agosto, o casal paulista de aposentados Wladimir e Rosane Popoff, de 65 e 62 anos de idade, viraram náufragos, quando o barco no qual eles navegavam – e no qual também moravam -, o veleiro Darwin, de 12 metros de comprimento, afundou a cerca de 13 quilômetros da costa de Porto Seguro, no sul da Bahia, após ter sido danificado por uma rede de pesca não sinalizada, sustentada por um cabo de aço.

O casal foi resgatado por pescadores e nada sofreu, além de um intenso estresse e um bom prejuízo, pois o seguro só cobrirá metade do que o barco valia, e tudo o que o casal tinha estava a bordo, já que o barco era também a casa deles.

Mesmo assim, as dores de cabeça da família Popoff com o naufrágio ainda não terminaram.

Agora, eles correm o risco de ter um prejuízo ainda maior, porque, pelas regras da Marinha do Brasil, os donos de embarcações naufragadas são também responsáveis por resgatá-las do fundo do mar, a fim de não comprometer a navegação nem poluir o meio ambiente – a menos que nem uma coisa nem outra seja afetada.

Mergulho até o barco

No fim de semana, uma empresa especializada esteve no local do naufrágio, com dois mergulhadores, para avaliar o estado e o local onde barco se encontra, a 23 metros de profundidade, a fim de produzir um relatório que será entregue à Marinha, a quem cabe decidir o que será feito do veleiro afundado: se ele terá que ser removido de lá ou simplesmente deixado no fundo do mar.

“Tomara que não seja preciso remover o barco, porque não temos dinheiro para pagar pelo serviço”, diz o casal, que morava no veleiro há sete anos, desde que decidiram vender o único bem que tinham, uma casa de classe média em São Paulo, e viver no mar.

Valia R$ 800 mil

O mergulho, que foi filmado e fotografado pelos dois mergulhadores, e acompanhado pelo casal na superfície, apesar da baixa visibilidade, mostrou que o veleiro, que valia cerca de R$ 800 mil, está inteiro no fundo do mar (exceto por uma pequena rachadura na base do leme, causada pela colisão com o cabo de aço da rede, que provocou o seu naufrágio), mas inundado e tombado – clique aqui para ver o vídeo.

“Ver a nossa casa no fundo do mar, com nossos objetos pessoais se desprendendo de dentro do barco e vindo dar na superfície, foi bem triste, e não pretendemos voltar a visitá-lo. Até porque, em pouco mais de uma semana submerso, o barco já está parcialmente coberto por sedimentos, como se estivesse sendo enterrado pelo mar. E é lá que ele deve ficar”, diz Wladimir Popoff, que considera altamente improvável a hipótese de o barco-casa do casal poder vir a ser resgatado e recuperado.

“Para mim, o barco é irrecuperável. Mas isso quem vai dizer é a empresa que fará o relatório à Marinha”, diz o dono do veleiro.

Como era, como está

Por razões de segurança, os dois mergulhadores não penetraram no interior do barco, que tinha sala, cozinha e três camarotes, equipados como uma casa de verdade (veja fotos do interior dele, antes do naufrágio).

Apesar de o barco estar repleto de utensílios de uma casa de verdade, os mergulhadores também não recolheram nenhum objeto pessoal do casal.

“Tudo nosso ainda está dentro do barco. Inclusive roupas e documentos. Mas não pretendemos resgatar nada, porque pode ser ainda mais perigoso entrar em um barco inundado, cheio de cabos. O risco de enroscar em algo e morrer afogado é grande”, diz o casal, que, desde o episódio, tem contado com a ajuda de amigos para se manter, já que nem mais casa para morar eles têm.

Vaquinha para ajudar

Também para ajudar o casal, pelo menos até que o seguro o indenize com parte do que valia o barco, um grupo de amigos criou uma vaquinha virtual na internet, que já arrecadou mais de R$ 70 mil.

“Descobrir o lado solidário e carinhoso das pessoas tem sido a melhor coisa dos últimos dias”, diz o casal, que ainda está em Porto Seguro, cuidando dos trâmites legais do naufrágio.

“Até a dona do hotel que nos acolheu virou uma grande amiga. Esse é o lado bom da vida. Mesmo nos piores momentos, sempre fica algo de positivo”, analisa o casal, que cultivava o hábito de gravar vídeos e postá-los na Internet, mostrando os cuidados que é preciso ter ao navegar com um barco – como neste vídeo, feito dias antes do naufrágio.

Relato dos náufragos

Também ao chegarem a Porto Seguro, eles redigiram um relato sobre como tudo aconteceu, que pode ser lido clicando aqui.

“Agora, é remar de tudo de novo, porque não perdemos o mais importante, que é a vida. E o resto, a gente corre atrás”, diz o otimista casal, cuja casa hoje está no fundo do mar.

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Drama no mar: casal conta como sobreviveu ao naufrágio do barco onde morava http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/12/drama-no-mar-casal-conta-como-sobreviveu-ao-naufragio-do-barco-onde-morava/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/12/drama-no-mar-casal-conta-como-sobreviveu-ao-naufragio-do-barco-onde-morava/#respond Thu, 12 Aug 2021 07:00:35 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3315

Na madrugada da última quinta-feira, o casal paulista de aposentados Wladimir e Rosane Popoff, ele com 65 anos de idade, ela com 62, viveu o segundo grande susto da vida.

O primeiro foi 37 anos atrás, quando o então jovem e recém-casado engenheiro Wladimir Popoff trabalhava em uma plataforma de petróleo em alto-mar que pegou fogo, e ele escapou da morte por bem pouco.

Marcado eternamente pelo acidente, Wladimir, muito mais conhecido pelo apelido Voka, decidiu que, quando se aposentasse, venderia o único bem que o casal possuía, uma casa de classe média em São Paulo, e realizaria um velho sonho dos dois: comprar um veleiro e ir morar no mar.

E foi justamente com o barco que veio o segundo grande susto do casal, na semana passada.

Naufrágio em alto-mar

Quando navegavam entre as cidades de Caravelas e Ilhéus, na costa sul da Bahia, uma rede de pesca não sinalizada enganchou e danificou o casco do barco-casa do casal, o veleiro Darwin, de 12 metros de comprimento.

E eles acabaram naufragando, horas depois, a cerca de 12 quilômetros do litoral de Porto Seguro.

Wladimir e Rosane foram resgatados por pescadores e nada sofreram, além do susto e de um grande prejuízo, porque o veleiro era, também, a casa onde moravam – e o seguro pagará apenas metade do que valia o barco.

Além disso, agora, eles correm o risco de ter um prejuízo ainda maior, porque, pelas regras da Marinha do Brasil, os donos de embarcações naufragadas são responsáveis por resgatá-las, a fim de não comprometer a navegação nem poluir o meio ambiente – a menos que nem uma coisa nem outra seja afetada.

“Estamos esperando a chegada de um perito, que irá avaliar se precisamos tirar ou não o nosso barco do fundo do mar. Tomara que não, porque será ainda mais traumático para nós e nem temos dinheiro para pagar pelo serviço”, diz o casal, que, a seguir, conta como tudo aconteceu.

O relato dos náufragos

“Na quarta-feira passada, partimos de Caravelas, rumo a Ilhéus, tão logo o dia amanheceu.

Nosso objetivo final da viagem era Recife.

Mas, quase sempre, tínhamos hóspedes em cada trecho da travessia, porque, desde que decidimos trocar a vida na cidade por um barco, sete anos atrás, o nosso trabalho passou a ser  passar experiências da vida a bordo para quem gostaria de fazer o mesmo.

Desta vez, no entanto, seríamos só nós dois no barco.

Mais tarde, daríamos graças a Deus por não ter mais ninguém a bordo.

Última imagem do barco

Na véspera da partida, o dia terminou com um lindo pôr do sol e decidimos fotografar nosso veleiro naquela paisagem.

Mal sabíamos que seria a última foto que faríamos dele – esta aqui abaixo.

Horas depois, por volta das 16h, quando estávamos na metade da travessia, navegando na altura de Porto Seguro, vimos uma caixa de isopor boiando no mar, bem diante do nosso barco.

Era uma espécie de boia, deixada por pescadores – um sinal de que ali havia uma rede de pesca.

Mas, ao contrário do habitual, não havia uma segunda boia indicando onde a rede terminava.

Por precaução, passamos a mais de 100 metros de distância de tal boia. Mas não adiantou.

Cabo de aço no mar

Mesmo passando longe da boia, sentimos um tranco no barco e deduzimos que havíamos enganchado na rede.

Estávamos acostumados a esse tipo de problema – bem frequente na costa brasileira, por sinal.

Bastava parar o barco, soltar a rede e seguir em frente.

Mas aquela rede era diferente. Em vez de simples cabos de náilon, os dela eram de aço. E isso causou um estrago fatal no barco. Só que nós não sabíamos.

Naufrágio, horas depois

O choque do barco com o cabo de aço danificou o mecanismo interno do leme do nosso veleiro.

Mas só descobriríamos isso horas depois.

E da pior maneira possível.

Quando vimos que era um cabo de aço que sustentava a rede e havíamos batido nele, paramos o barco e examinamos as partes submersas do casco, para ver se algo havia sido afetado.

Aparentemente, estava tudo em ordem.

Não havia vazamentos, nada quebrado e o leme, que está para os barcos assim como o volante para os automóveis, respondia normalmente aos movimentos.

Aliviados, seguimos em frente.

Por um bom tempo.

Até que, quatro horas depois, quando já havia escurecido e o mar ganhara muitas ondas desencontradas, uma tampa do assoalho do barco foi arrancada por um jato d´água, vindo da parte de baixo do casco. Era o começo do fim.

Casco rachado

Na hora, custamos a compreender o que tinha acontecido.

Mas pegamos uma lanterna e corremos para ver de onde vinha aquela água que jorrara pelo assoalho do barco.

Era uma rachadura no casco, causada pelo mecanismo do leme, que, já completamente solto, batia furiosamente contra a fibra de vidro.

Logo, a rachadura virou um rombo. E por ele passou a jorrar um turbilhão de água salgada para dentro do barco.

Nada deu certo

Tentamos conter a inundação, enfiando no buraco a única coisa que estava à mão: um simples casaco.

Mas era impossível conter a enxurrada.

Corremos, então, um para cada lado.

Um para o leme, na esperança que ele ainda funcionasse – único meio que tínhamos para tentar chegar em águas mais rasas e encalhar o barco, antes que ele afundasse .

E outro para o rádio, a fim de pedir socorro.

Nem uma coisa nem outra funcionou.

Nenhum barco respondeu aos nossos pedidos de ajuda pelo rádio, e, após um tempo, o leme do nosso veleiro passou a girar descontrolado, completamente solto.

A decisão mais difícil

Mesmo assim, conseguimos levar o barco para mais perto de terra firme.

Mas, quando ainda faltavam cerca de sete milhas náuticas, o leme soltou de vez e a inundação se tornou incontrolável.

Ficamos, então, com o barco sendo rapidamente inundado, sem conseguir movimentá-lo e sem ninguém para nos socorrer.

Era o fim. Hora de abandonar o barco, com tudo o que havia dentro dele, e tentar salvar nossas vidas.

Um cacho de bananas

Na escuridão da noite e com as ondas cada vez mais fortes, não foi nada fácil baixar o bote salva-vidas no mar e pular para dentro dele.

Na pressa, só deu tempo de pegar uma mochila que mantínhamos sempre pronta, para situações de emergência, o motorzinho para o bote e um cacho de banana, que estava pendurado do lado de fora do barco.

As bananas serviriam de alimento, já que não sabíamos quanto tempo ficaríamos no mar, até sermos resgatados.  Se é que isso aconteceria…

Sozinhos no meio do mar

Não deu tempo de pegar mais nada.

Rapidamente, o mar invadiu todo o barco.

A última imagem do veleiro que nos serviu de casa nos últimos sete anos foi a dele afundando, com as luzes ainda acesas – uma terrível sensação de perda.

Não pelo barco, mas pelo que ele representava para nós.

Nosso veleiro era a nossa casa e, também, nosso principal meio de sustento. De uma só vez, perdemos tudo.

Um chorava, o outro não acreditava

Quando não restava mais nenhuma parte do barco visível na superfície, olhamos para o mar ao redor e não também não vimos nada.

Estávamos encharcados, levando seguidas pancadas das ondas, e a mais de 12 quilômetros da costa – longe demais para enxergar algo.

Nem mesmo as luzes de Porto Seguro.

Quase por instinto, escolhemos uma direção a seguir e ligamos o motorzinho do bote.

Enquanto um chorava, o outro custava a acreditar que aquilo estivesse mesmo acontecendo. Era como um pesadelo ao vivo.

Surge a salvação

Tempos depois, vimos uma luzinha no mar, que julgamos ser um farol.

Não era.

Era um barco de pescadores.

Aceleramos na direção deles.

Eles estavam dormindo, mas acordaram assustados, com nossos gritos de socorro.

Fomos puxados para dentro do barco e ganhamos uma cama para descansar.

Eram três da madrugada, mas era impossível dormir. A imagem do barco inundando e afundando não saia da cabeça.

Salvaram o mais importante

Prestativos, os pescadores sugeriram interromper a viagem e nos levar direto para Porto Seguro.

Recusamos.

Eles estavam trabalhando e tinham redes a recolher.

Ironicamente, redes de pesca – como as que haviam causado o nosso drama.

Chegamos a Porto Seguro só quando o dia estava amanhecendo, apenas com uma mochila e um cacho de bananas.

Todo o resto das nossas coisas (barco, casa, roupas, pertences, tudo, tudo, tudo) agora jazia no fundo do mar.

E, se depender apenas da nossa vontade, é por lá que devem ficar.

Resgatar o barco custará um valor que não temos mais como pagar.

Perdemos o nosso barco, a nossa casa e a nossa atividade – tudo ao mesmo tempo. Mas estamos vivos. E isso não tem preço. Vida que segue…”

Vaquinha para ajudar

Tão logo ficaram sabendo do naufrágio do veleiro do casal Popoff, os amigos, sobretudo os que também moram em barcos, criaram uma vaquinha virtual na internet (clique aqui para acessá-la), a fim de levantar recursos para ajudá-los a reconstruir a vida – pelo menos até que tenham um novo lugar para morar.

Em uma semana, já arrecadaram perto de R$ 40 mil.

Ainda assim, bem longe do que o casal precisará, caso decida voltar a viver em um barco e seguir trabalhando no mar.

“Agora, é remar de tudo de novo. Quem sabe, em outra direção”, diz Wladimir, ainda sem saber o que fazer.

De certa forma, tiveram sorte

O drama vivido pelo casal paulista não é nada inédito.

Muito menos o que causou o acidente que levou ao naufrágio do seu barco.

Colisões com objetos no mar são muito mais frequentes do que parece.

E, muitas vezes, com consequências trágicas para os barcos pequenos.

No entanto, se comparado a outros casos do gênero, os Popoff tiveram a sorte de serem resgatados rapidamente.

O mesmo não aconteceu com muitos outros.

Um deles foi o casal inglês Maurice e Maralyn Bailey, donos de um triste quase recorde.

Em 1972, eles passaram nada menos que 118 dias à deriva no Oceano Pacífico, depois que o seu barco, um veleiro de pouco menos de 10 metros de comprimento, foi atingido por uma baleia e afundou rapidamente – uma das mais extraordinárias histórias de sobrevivência no mar que se tem notícia (clique aqui para conhecê-la).

Perto do que viveu o casal inglês, o drama dos náufragos paulistas na semana passada não passou de um grande susto e de um bom prejuízo. Que pode ser ainda maior, se eles ainda tiverem que remover o que restou do seu barco-casa do fundo do mar.

“O pesadelo ainda não acabou”, diz o casal.

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Filha de Amyr Klink partirá, sozinha, para cruzar o Atlântico com um barco http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/06/filha-de-amyr-klink-partira-sozinha-para-cruzar-o-atlantico-com-um-barco/ http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/2021/08/06/filha-de-amyr-klink-partira-sozinha-para-cruzar-o-atlantico-com-um-barco/#respond Fri, 06 Aug 2021 07:00:34 +0000 http://historiasdomar.blogosfera.uol.com.br/?p=3303

Seguindo os passos do pai, Tamara Klink, de 24 anos, filha do mais famoso navegador do Brasil, Amyr Klink (que, entre outras façanhas, atravessou o oceano Atlântico com um barco a remo, 37 anos atrás), está prestes a partir do porto de Lorient, na França, com o objetivo de também cruzar o Atlântico e chegar ao Brasil navegando com um veleiro de pouco mais de oito metros de comprimento.

E sozinha – como seu pai sempre gostou de navegar.

Será apenas a segunda travessia em solitário de Tamara.

A primeira foi setembro do ano passado, entre a Noruega (onde ela comprou o próprio barco, com dinheiro emprestado por um amigo) e a França, onde cursava um curso de arquitetura naval, que acaba de completar.

Três meses sozinha no mar

A previsão é que a nova travessia, quatro vezes maior que a anterior, dure cerca de três meses, já que, antes de efetivamente cruzar o Atlântico, o que deve acontecer só no final do mês que vem, ela irá fazer uma série de escalas no caminho (Espanha, Portugal, Ilha da Madeira, Cabo Verde), para descansar e aguardar melhores condições do tempo, antes de seguir adiante.

“Ainda estou ganhando experiência e, por isso, vou com calma. Não sou nenhuma super-heroína e tenho consciência das minhas limitações”, diz a jovem navegadora, dona de uma surpreendente humildade para quem nasceu e cresceu ouvindo as impressionantes histórias do pai – que, por sinal, nem foi consultado quando ela decidiu comprar um barco por iniciativa própria e começar a navegar em solitário, como ele sempre fez.

“A Tamara sempre foi muito independente e determinada”, diz a mãe, Marina Klink. “Quando ela decide fazer algo, planeja tudo sozinha. Mas pede conselhos ao pai, sempre que acha necessário”.

Temor pelos ventos

A previsão de Tamara é chegar ao Brasil, na cidade de Recife, no final de outubro, após um período que ela estima entre 20 e 25 dias cruzando, sozinha, o segundo maior oceano do mundo.

“Vai depender dos ventos”, explica. “Ou da falta deles…”, brinca, numa alusão a travessia do trecho da Linha do Equador, no meio do Atlântico, onde sempre há grandes calmarias.

“Em um veleiro, a falta de ventos é uma das piores coisas que existe. Você fica parada no meio do mar, sem conseguir se movimentar. É como ficar sem combustível”, compara.

Quanto mais longe, melhor

Por isso, uma das precauções de Tamara será aumentar a quantidade de água e comida a bordo, antevendo a possibilidade de a travessia durar mais que o previsto.

Outro cuidado será com a segurança, tanto dela quanto do barco.

“Meu pai sempre me ensinou a não forçar nem maltratar o barco, porque a minha segurança depende dele”, diz. “E, também, para ficar sempre longe da costa, porque o maior risco de quem está no mar é a terra firme, que tem pedras, praias e recifes”.

Caso tenha algum problema de saúde durante a viagem, Tamara terá acesso a um médico à distância, através da telemedicina oferecida por um dos seus três patrocinadores, a Prevent Senior Sports – os outros dois apoiadores da empreitada são a Localiza e a Magalu.

Sempre presa ao barco

Durante toda a travessia, Tamara também usará uma espécie de cinto de segurança, que a manterá atada ao barco, o tempo todo.

“Quando se está sozinha no mar, a pior coisa que pode acontecer é cair na água, porque o veleiro segue em frente e você fica”, explica Tamara, que sabe bem o que diz, porque já foi sete vezes navegando até a Antártica, com a família, a primeira delas quando tinha apenas oito anos de idade.

Não sente medo?

Desde a primeira travessia em solitário que fez, em setembro do ano passado, Tamara passou a aprender a lidar com seus temores e receios.

E não tem nenhum problema em dizer que, em certas situações, sente algum medo.

“O medo ensina a gente a não ultrapassar nossos limites. Na dose certa, é um santo remédio”, diz a jovem navegadora, que nem de longe se considera uma aventureira.

Aliás, ela detesta essa palavra.

“Aventura quem faz é quem não se prepara nem planeja. E isso é o que eu mais faço, antes de qualquer viagem”.

Peixinhos coloridos no barco

O barco de Tamara é um pequeno veleiro, com quarto, sala e cozinha, que ela batizou de Sardinha (“Porque é um peixinho que ninguém dá nada por ele, mas vence grandes distâncias”, explica) e decorou com peixinhos coloridos pintados no casco, cada um deles com o nome de algum amigo ou amiga escrito dentro.

“Vou navegar sozinha, mas terei a companhia deles durante todo o percurso”, diz, com eterno bom humor.

Durante a viagem, Tamara também produzirá pequenos vídeos, que compartilhará nas redes sociais, além receber e transmitir mensagens, sempre que houver sinal de internet.

Também será possível acompanhar em tempo real a sua localização no mar, através de um aplicativo, que pode ser acessado clicando aqui.

Quer inspirar outras mulheres

“Sempre tive o sonho de atravessar o Atlântico sozinha, comandando o meu próprio barco, como fez o meu pai, no passado. Mas, além disso, o objetivo dessa viagem é estimular outras pessoas, especialmente as mulheres, a fazerem o mesmo, caso tenham o mesmo sonho que eu. Adoraria servir de inspiração para elas, assim como outras mulheres também serviram de inspiração para mim”.

Além do pai, outras jovens navegadoras também serviram de inspiração para a brasileira.

Uma delas foi a holandesa Laura Drekker, que, dez anos atrás, tornou-se a mais jovem velejadora da História a dar a volta ao mundo navegando sozinha, mas que não teve o seu feito oficializado como recorde por conta de uma questão polêmica: ela tinha apenas 14 anos de idade quando foi para o mar, o que levou a Justiça do seu país a tentar impedi-la de todas as formas (clique aqui para ler esta história que, na época, deu o que falar).

Já Tamara, aos 24 anos de idade, é uma jovem adulta, inteligente, cuidadosa e responsável, que sabe muito bem o que quer, o que comprova que, no caso da família Klink, filho de peixe, peixinho é.

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