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Histórias do Mar

Sino que teria sido da nau de Colombo vai a leilão: lance mínimo 31 milhões

Jorge de Souza

18/09/2021 04h00

529 anos depois de, ao que tudo indica, ter sido usado para anunciar a descoberta da América, em 12 de outubro de 1492, e 27 anos após ter sido achado, no fundo do mar de uma praia de Portugal, pelo mergulhador italiano Roberto Mazzara, o suposto sino da nau Santa Maria, capitânia da frota de Cristóvão Colombo naquela histórica viagem, está à venda, nos Estados Unidos, por meio de um leilão privado que está sendo promovido pelo próprio autor da descoberta que já passou grandes apuros por conta do seu achado.

O leilão acontece em duas fases.

Na primeira, que começou na última quarta-feira, os interessados devem apenas manifestar interesse na peça, através do email thesantamariabell@gmail.com ou na página do leilão no Facebook.

Já o leilão propriamente dito acontecerá em Miami, em data ainda a ser divulgada, tão logo haja um número mínimo de participantes – já que não se trata de um objeto com preço acessível a qualquer pessoa.

O lance mínimo inicial será de 6 milhões de dólares, ou mais de R$ 31 milhões, mesmo valor do único lance que o sino recebeu no primeiro leilão que houve, dois anos atrás, oferta que o dono da peça recusou.

"Este sino vale muito mais que isso", diz o italiano. "Especialistas de casas de leilões, como a Sotheby's e Christie's, falam em até 100 milhões de dólares. Mas a verdade é que o valor histórico do sino é inestimável".

Só para milionários

Pelas altas cifras envolvidas, o leilão (que, espera-se, aconteça nas próximas semanas) deve ficar restrito a apenas dois tipos de interessados: colecionadores particulares milionários ou entidades filantrópicas interessadas em arrematar a peça para doá-la a algum museu, o que Mazzara concorda que seria o melhor destino para o pequeno sino, de apenas pouco mais de 25 centímetros de altura e com um grande buraco causado pela corrosão, após, segundo ele, "mais de cinco séculos debaixo d´água".

"O valor dessa peça é histórico, não estético", diz o italiano. "É o único objeto que esteve presente no dia da descoberta da América, um acontecimento que mudou a História do mundo para sempre", argumenta.

Local secreto

Por isso, desde que levou o sino da Europa para os Estados Unidos, após uma intensa disputa jurídica, Mazzara vem mantendo a peça guardada "em local seguro", em Miami (veja vídeo), onde ela será leiloada, em um evento privado, aberto apenas aos que se inscreverem e demonstrarem real interesse em pagar mais de R$ 31 milhões pelo objeto, que, apesar de tudo, não tem a unanimidade dos historiadores.

Será autêntico?

Embora Mazzara tenha documentos que, segundo ele, "comprovam a autenticidade do sino" – inclusive "análises metalográficas que atestam a idade da peça" , nem todos os estudiosos atestam que este pequeno sino de bronze tenha sido o que supostamente foi tocado por Colombo para anunciar a descoberta do Novo Mundo, mais de cinco séculos atrás nem mesmo se havia um sino na sua nau capitânia, a Santa Maria, embora isso fosse hábito na época.

Mas as evidências são favoráveis ao italiano.

Ele achou a peça quando vasculhava os escombros de um antigo galeão espanhol afundado em 1555 no litoral norte de Portugal, mas que não era da frota de Colombo o que torna a história desse sino ainda mais interessante e intrigante.

Como tudo começou

No dia de Natal de 1492, a nau capitânia da frota de Cristóvão Colombo, a Santa Maria, encalhou e afundou na costa do atual Haiti, quando retornava à Europa, após a descoberta da América pelo lendário navegador, dois meses antes.

Cinco séculos depois, em 1994, quando explorava os restos do galeão San Salvador no litoral português, Mazzara achou um pequeno sino, que, no entanto, era acanhado demais para uma nau tão grande.

Intrigado, ele resolveu investigar e, através de antigos documentos, descobriu que a San Salvador transportava mercadorias vindas do Caribe, entre elas um sino, que viera da Fortaleza Navidad, que fora criada por Colombo com os restos da sua nau naufragada, e seria entregue a um neto do navegador, na Espanha.

E foi este detalhe que levou o italiano a deduzir que aquele sino era o mesmo da nau de Colombo, e que estava sendo transportado pela San Salvador para ser entregue a família do descobridor.

Perseguição policial

Começava ali uma história cheia de polêmicas e reviravoltas, que virou até caso de polícia, quando o governo de Portugal mandou confiscar o sino às vésperas de um leilão que Mazzara faria, na Espanha, em 2002 – clique aqui para conhecer este vibrante caso, que teve lances dignos de filmes de ação.

Mazzara, então, fugiu com a peça para os Estados Unidos, onde, após ganhar da justiça espanhola a posse legal do objeto, agora tenta vendê-la em um leilão milionário, que qualquer um que esteja disposto a gastar mais de R$ 31 milhões pode participar.

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Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.