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Histórias do Mar

Família oferece R$ 50 mil de recompensa por inglesa desaparecida no Caribe

Jorge de Souza

29/05/2021 04h00

No final da manhã de 8 de março deste ano, o telefone tocou na sede da Polícia das Ilhas Virgens Americanas, no Caribe.

Do outro lado da linha, estava o americano Ryan Bane, relatando o desaparecimento da sua namorada, a inglesa Sarm Joan Heslop, de 41 anos, do barco no qual moravam, que estava ancorado na baía Frank, em St. John, um das ilhas que fazem parte da Ilhas Virgens Americanas.

Só que, segundo ele, o desaparecimento havia ocorrido quase dez horas antes, ainda de madrugada, quando ele acordou e deu por falta da namorada a bordo do barco.

Por a demora em chamar a Polícia?

Por que Bane demorou tanto para relatar o desaparecimento da namorada à Polícia é apenas a primeira perguntas ainda sem resposta neste intrigante caso, que já dura doze semanas, sem que nenhuma pista do paradeiro da inglesa, nem o seu corpo, tenha sido encontrado.

Mas a dúvida mais intrigante é por que ele, até hoje, quase três meses depois, ainda não permitiu que o seu barco, que segue ancorado no mesmo local, seja periciado pela Polícia?

Não deixa a Polícia entrar

Através do seu advogado, Banes, que se nega a dar qualquer declaração sobre o caso, alega que não permite a vistoria no barco, um bonito catamarã de quase 15 metros de comprimento, chamado Siren Song ("Canto da Sereia", em português), porque não confia na Polícia das Ilhas Virgens e teme que os policiais "plantem" alguma prova contra ele a bordo, a fim de dar uma "solução" ao caso, que já põe em xeque a competência do órgão.

Já a Polícia diz que só pode entrar no barco e fazer a perícia se houver uma determinação judicial nesse sentido, já que a investigação ainda não é criminal, e o namorado, que legalmente ainda não é acusado de nada, é americano e, portanto, protegido pelas leis dos Estados Unidos – que, entre outros benefícios, dá o direito de qualquer pessoa ficar calada e de não permitir vistorias sem um mandado de busca.

E assim o mistério sobre o desaparecimento de Sarm Heslop se arrasta, sem nenhum passo adiante, para angústia dos amigos e familiares da inglesa, que decidiram, em um ato quase desesperado, oferecer uma recompensa de cerca de R$ 50 mil para quem oferecer alguma pista sobre o caso.

Poucas chances de estar viva

"Esperamos que a recompensa motive alguém a dar alguma informação que ainda desconhecemos", torcem os amigos e familiares da inglesa desaparecida.

Eles acreditam que ela ainda possa estar viva, em alguma outra ilha da região, caso tenha fugido do barco do namorado, o que, no entanto, a cada dia fica menos provável – tanto uma eventual fuga sem aparente motivo quanto a hipótese de ela não ter morrido.

Esta semana, após mais de dois meses sem nenhum avanço nas investigações, surgiu um fato novo na região: o corpo de uma mulher foi encontrado no mar da vizinha ilha de St. Croix, a pouco mais de 50 quilômetros de onde Sarm desapareceu.

E isso levantou a suspeita de que o cadáver poderia ser dela.

Mas logo veio a constatação de que não era, porque se tratava do corpo de uma mulher negra – que tampouco a Polícia sabe a quem pertencera.

Não sabem se ela estava no barco

A Polícia das Ilhas Virgens não tem sequer certeza se a inglesa estava mesmo a bordo do barco do namorado na noite em que ele relatou que ela desapareceu.

A suspeita é que ela possa ter sido morta, ou desaparecido, ainda em terra firme, antes de os dois voltarem para dormir no barco.

O que se sabe é que eles jantaram juntos, em um pequeno bar da ilha, e que por lá ficaram até por volta das 22 horas, como contou o dono do estabelecimento à Polícia.

Depois disso, só há hipóteses.

E o namorado, desde o início principal suspeito do caso, não tem feito nada para ajudar nas investigações.

Ao contrário, ele se nega a falar com a Polícia, que, por sua vez, diz que nada pode fazer para obrigá-lo a depor, muito menos periciar o barco onde o suposto desaparecimento teria acontecido.

Não pode ser interrogado

"Nós gostaríamos que ele colaborasse nas investigações", diz o delegado encarregado do caso. "Mas como o desaparecimento dela ainda não foi classificado como uma investigação criminal, e ele, como cidadão americano, tem os seus direitos, nós não podemos interrogá-lo nem periciar o barco sem um motivo legal para isso", alega o policial, para indignação dos familiares e amigos da inglesa, que, de tanto pressionar as autoridades da Inglaterra, até conseguiram que o FBI começasse a investigar o caso.

Mas, por enquanto, nem o principal órgão de investigação americana apurou nada.  Nem tampouco ouviu o namorado suspeito.

Nada a declarar

Enquanto isso, Ryan Bane segue morando no próprio barco, ainda ancorado no mesmo local onde sua namorada supostamente desapareceu, e se nega a conversar sobre o assunto com quem quer que seja.

Recentemente, ao ser abordado, durante um passeio na praia, por um repórter do jornal inglês Daily Mail, Bane se limitou a dizer que não tinha nada a comentar.

E seguiu em frente, rumo a um bar, onde comprou cervejas, para levar para o barco.

"Meu cliente não está se escondendo", diz o advogado de Bane, o único que se pronuncia a respeito. "Ele apenas está exercendo o seu direito de ficar calado e de não permitir a vistoria do barco, já que oficialmente não é um investigado".

Passado de violência doméstica

O passado de Ryan Bane, no entanto, tem contribuído ainda mais para aumentarem as suspeitas que recaem sobre ele.

Dez anos atrás, ele passou 21 dias preso nos Estados Unidos por agredir e ameaçar sua ex-esposa, a também americana Cori Stevenson – de quem se divorciou quando decidiu ir morar em um barco no Caribe.

E, dois anos depois, voltou a ser preso, por descumprir a ordem judicial de ficar longe dela.

Recompensa por qualquer informação

Agora, a família da inglesa teme que Bane tenha levado o seu histórico de violência doméstica às últimas consequências, e, em seguida, jogado o corpo de Sarm Heslop ao mar – daí a decisão de oferecer uma recompensa em dinheiro a quem der novas informações sobre este misterioso caso, cujos detalhes podem ser conferidos clicando aqui.

Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.