O que explica tantos tubarões no mar de Angra dos Reis durante a quarentena
Imagem: Cesar Duarte/Luxx Boat
As imagens de mais de uma dúzia de tubarões nadando bem próximos à Praia do Laboratório, em Angra dos Reis, no litoral sul do Rio de Janeiro, na semana passada, gerou uma série de comentários.
Haveria relação entre a quarentena decretada às pessoas pela pandemia da Covid-19 e o aumento na quantidade desses animais no mar de uma das regiões mais bonitas do litoral brasileiro?
Imagem: Cesar Duarte/Luxx Boat
A alegação era que, por conta do isolamento social, o movimento de pessoas e barcos na região havia diminuído tanto que os tubarões estariam se sentido "mais à vontade" para aparecerem em locais que não frequentavam – e em números cada vez mais maiores.
Isso, a princípio, não fazia muito sentido, já que uma coisa não parecia ter a ver com a outra. Mas, em parte, sim…
O que há de verdade nisso?
A parte verdadeira da história é que, sim, a diminuição acentuada no vai e vem de barcos no principal polo náutico do Brasil teria, de fato, parado de afugentar os tubarões do mar da região.
Com isso, eles teriam se sentido menos ameaçados e mais propensos a frequentar locais que costumeiramente evitam, por conta da habitual movimentação de pessoas.
Imagem: Cesar Duarte/Luxx Boat
Isso explicaria porque ficou bem mais fácil avistar tubarões nas proximidades do local de águas especialmente claras e bem mais quentes do que nas demais partes da Baía de Ilha Grande, por conta do despejo no mar de efluentes termais da Usina Nuclear de Angra dos Reis, que fica ali em frente.
A quantidade de tubarões não aumentou
A parte falsa da história é que, não, a quantidade de tubarões no mar de Angra dos Reis não vem aumentando – muito menos isso tem a ver com a quarentena.
Ficou apenas mais fácil ver os tubarões na água, porque, com a diminuição na movimentação dos barcos, eles voltaram a frequentar locais que vinham evitando.
Além disso, nesta época do ano, os tubarões galhas-pretas costumam mesmo se aproximar daquele trecho do litoral de Angra dos Reis, atraídos pela mar mais quente na região da Praia do Laboratório
"A quantidade de tubarões no mar de Angra não aumentou. O que aumentou foi a quantidade de avistamentos deles na água, porque os tubarões se tornaram mais visíveis no mar", explica o biólogo e especialista em peixes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Leonardo Neves, desmistificando o suposto enxame.
"Entre maio e agosto, os tubarões galhas-pretas costumam mesmo aparecer naquela praia. O único fato novo é que, este ano, estão aparecendo mais indivíduos do que nos outros anos, provavelmente por conta da menor atividade humana na região, já que os tubarões são seres tímidos, que temem e evitam a proximidade com os homens. Mas a população deles, infelizmente, não aumentou", diz o biólogo.
"Ainda bem que tubarões estão aparecendo"
A mesma opinião é compartilhada pelo também biólogo Fábio Motta, do Instituto do Mar, da Universidade Federal de São Paulo, que igualmente comemora o fato de os tubarões voltarem a frequentar o mar de Angra dos Reis com a mesma tranquilidade do passado.
"O avistamento de mais tubarões na Praia do Laboratório é uma boa notícia. Significa que eles estão retomando um antigo hábito e um sinal de que o equilíbrio ambiental da região está sendo mantido", diz.
E completa: "Ver tubarões no mar não é nenhum risco. Ao contrário, é sinal de boa qualidade ambiental, porque eles fazem parte do ecossistema marinho. Preocupante seria se eles não estivessem mais aparecendo".
Imagem: Cesar Duarte/Luxx Boat
Águas aquecidas pela usina nuclear
A região da Piraquara, onde está a praia mencionada, fica próxima a uma grande área de preservação ambiental, a ESEC Tamoios (a mesma onde, na época em que ainda era deputado, Jair Bolsonaro foi flagrado e multado por pescar em área proibida – e, mais tarde, ao tomar posse, mandou demitir o fiscal que o autuara), o que favorece os tubarões, pela fartura de alimento.
Já a Praia do Laboratório, assim chamada por conta da Usina Nuclear que a abrange, tem como principal característica a temperatura do mar, sempre alguns graus mais quente do que as das demais praias da região, já que fica ao lado do vertedouro da água usada para resfriar os reatores nucleares – algo que sempre incomodou os ambientalistas, mas, aparentemente, nem tanto os tubarões galhas-pretas.
"Todo ano, nessa época, os tubarões aparecem na praia, bem pertinho da areia. Mas nunca vi tantos juntos quanto agora. Eles chegam a saltar fora d'água", diz o empresário Cesar Duarte, dono da empresa Luxx, de aluguel e uso compartilhado de lanchas na região, autor das imagens que viralizaram, na semana passada.
"E eles continuam aparecendo. Ontem mesmo vi outros dez tubarões na praia, e alguns eram maiores do que o meu jet ski. Estou até pensando em levar clientes para ver os tubarões de perto".
Imagem: Cesar Duarte/Luxx Boat
O tubarão que desvendou um assassinato
Embora os especialistas garantam que há nenhum perigo, a relação entre homens e tubarões sempre foi uma mistura de terror e fascínio.
Na década de 1930, ficou famoso, na Austrália, um caso de assassinato que só foi desvendado graças a um tubarão.
O animal havia engolido o braço da vítima, quando ela já estava morta, mas não por ter sido atacada e sim assassinada.
E foi esse detalhe que fez com que a Polícia conseguisse chegar até o culpado – clique aqui e conheça essa história, tão curiosa quanto a imagem de uma dúzia de tubarões nadando tranquilamente, bem pertinho da praia, no paradisíaco mar de Angra dos Reis.
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