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Histórias do Mar

Quase pronto: apresentador Carlos Nascimento vai pôr um 'iate' no Rio Tietê

Jorge de Souza

11/07/2019 12h10

Na década de 1970, quando ainda era adolescente na pequena cidade de Dois Córregos, no interior de São Paulo , onde nasceu, o hoje jornalista e âncora do telejornal SBT Brasil, Carlos Nascimento, tinha um sonho que compartilhava com o então amigo de infância Homero Krähenbuhl, que nutria o mesmo desejo: construir um barco e, junto com ele, navegar pelos rios da região.

Hoje, quase 50 anos depois, Nascimento está na reta final de ver o seu sonho se tornar realidade.

Até o final deste ano (e após quase dez anos de muito planejamento, paciência e trabalho), ele espera, finalmente, inaugurar o barco no qual pretende passar os fins de semana navegando no rio que, também, sempre povoou os seus sonhos: o Tietê, que da metade do seu curso em diante em nada lembra o esgoto a céu aberro que cruza a cidade de São Paulo.

"Não vejo a hora de pôr o barco no rio e vê-lo navegar no Tietê que só quem é do interior conhece", diz o apresentador, que, no entanto, não terá a presença do velho amigo neste dia, porque Homero Krähenbuhl morreu de câncer, quase 30 anos atrás.

Mesmo assim, o amigo de infância de Carlos Nascimento estará de certa forma presente na inauguração do barco, porque o seu nome foi o escolhido para batizá-lo.

"É a minha homenagem a ele", diz Nascimento, que também teve câncer anos atrás, precisou se afastar dos telejornais, mas, ao contrário do amigo, foi curado.

"Tenho certeza de que, esteja onde estiver, ele vai gostar de ver o nosso sonho de menino ser realizado. E eu ainda mais, porque, modéstia à parte, o barco ficou muito bonito", diz o jornalista, que, mesmo famoso, jamais abandonou suas raízes no interior de São Paulo, e para lá viaja todos os finais de semana, a fim de acompanhar os últimos trabalhos no barco.

Longe, porém, de ser um barco como outro qualquer, a futura embarcação do apresentador do SBT é quase um pequeno navio, com casco de aço de quase 50 metros de comprimento e capacidade para mais de 500 passageiros, já que o seu objetivo é levar pessoas para passear no rio, na região de Barra Bonita, onde o Tietê já é bem limpo.

"Eu sei que todo mundo vai dizer que eu tenho um 'iate', mas o barco tem fins comerciais e não visa o meu lazer pessoal, embora eu vá me divertir nele também, navegando no rio que sempre amei", diz Nascimento.

Antes iniciar a construção do barco, o jornalista fez diversas viagens à Europa e Estados Unidos, para analisar as embarcações do tipo que navegam nos rios de lá.

"Acabei escolhendo um projeto com linhas bem modernas, que lembram mesmo as dos iates particulares, mas não será o meu caso", diz Nascimento. "O Homero Krähenbuhl será uma embarcação de serviço, para passeios, convenções e até casamentos no rio".

O barco, que está sendo finalizado em um estaleiro na pequena Igaraçu do Tietê, às margens do rio, tem dois "andares" — ou conveses, em linguagem náutica, dois grandes salões internos, um gigantesco terraço, três bares e dois restaurantes, "porque a ênfase serão as refeições a bordo", explica o jornalista.

Terá, também, um auditório com palco, para palestras e espetáculos, "e até um piano de cauda, o mesmo que tocava na Catedral Anglicana de São Paulo", empolga-se o apresentador, que vem construindo o barco desde 2010.

"Nunca pensei em desistir, apesar da dificuldade que é construir um barco desse porte no interior de São Paulo", garante.

A escolha do Tietê como local de navegação para o grande barco não foi por acaso. Trata-se do único rio do interior de São Paulo com capacidade para abrigar uma embarcação desse porte (outros dez já fazem passeios no rio, na região de Barra Bonita) e Nascimento sempre nutriu extrema admiração pelo rio que cruza praticamente o estado de São Paulo inteiro.

"Sempre defendi integralmente a navegação fluvial", diz o jornalista. "Isso tem a ver com a minha família e o meu passado. Meu avô, Júlio Chrisóstomo do Nascimento, dedicou sua vida inteira ao Rio Piracicaba", recorda. "Ele também ficaria feliz em ver o Homero Krähenbuhl ir para a água".

Nascimento vai ainda mais longe e garante que até os paulistanos ainda irão navegar no Rio Tietê.

"Sob o ponto de vista técnico, não há impedimentos para o Tietê ser navegável também no trecho que corta a cidade de São Paulo, porque, apesar da imundície, ele é perfeitamente navegável", diz o apresentador do SBT.

"Isso ajudaria a desafogar o trânsito caótico da cidade, sobretudo nas Marginais. Mas, obviamente, será preciso primeiro despoluí-lo, o que também é possível".

Defensor do rio

O otimismo de Nascimento se baseia no seu próprio conhecimento prático do rio ("Já fiz algumas reportagens para a TV sobre o Tietê", diz) e em exemplos de outros rios mundo afora, que voltaram à vida após um trabalho sério de despoluição.

Como o Rio Tâmisa, o principal da Inglaterra, que já foi o mais poluído da Europa e gerou até uma tragédia, mas hoje permite até pescarias na área central de Londres.

"A atual fase do Tietê no trecho que atravessa a cidade de São Paulo inspira cuidados, porque o rio já esteve menos imundo do que agora", analisa.

"Mas, de Barra Bonita em diante, ele continua lindo e limpo. E é isso que o meu barco vai ajudar a mostrar para as pessoas".

 

Fotos: Arquivo Pessoal Carlos Nascimento

Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.