A família catarinense que construiu um barco no telhado de casa
O que este barco está fazendo em cima de parte desta casa? Pergunte ao catarinense Marcelo Schurhaus, que, cinco anos atrás, teve a ideia de construir ele próprio um veleiro, já que não tinha dinheiro para comprar um. E resolveu fazê-lo em casa mesmo, na pequena cidade de Guabiruba, no interior de Santa Catarina.
Até aí, nada demais – muita gente já construiu pequenos barcos no quintal de casa. O curioso foi o local que Marcelo escolheu para montar o seu "estaleiro doméstico": em cima da laje da garagem, quase na altura do telhado da casa.
"Eu precisava de um local que, depois, permitisse o acesso de um guindaste, para tirar o barco, quando ele ficasse pronto. E isso só seria possível na laje da garagem, através do terreno baldio ao lado de casa", conta Marcelo, um engenheiro civil que trabalha como gerente de hotel, explicando a improvável escolha do lugar para construir o barco, o que, durante muito tempo, deixou encafifados os pacatos moradores de Guabiruba.
A última coisa que os 22.000 habitantes de município esperavam encontrar nas ruas da cidade era alguém construindo um barco em Guabiruba — até porque a cidade não fica perto do mar. Menos ainda daquele jeito, praticamente em cima de uma casa. Que obra seria aquela? Que estranha estrutura estava sendo montada naquela laje, que nem de longe parecia ser mais um cômodo daquela casa?
O enigma deixou a vizinhança intrigada. Até que uma fileira de madeiras simetricamente cortadas foi ganhando a forma de um barco, com pouco mais de sete metros de comprimento. Estava nascendo o Konquest, como o veleiro de Marcelo foi batizado. "Porque foi uma conquista", ele explica.
O barco levou cinco longos anos para ser construído, porque Marcelo fez tudo sozinho e só podia se dedicar a empreitada nos fins de semana, quando o trabalho de gerente de hotel permitia. "Comprei o projeto do barco por 400 dólares e fui construindo na medida que o tempo e dinheiro permitiam. No final, custou cerca de 150 mil reais, bem mais em conta do que se eu comprasse um barco novo e pronto. Mas essa opção não existia, porque nós não tínhamos dinheiro. Ir fazendo aos poucos, e na nossa própria casa, foi o que permitiu que o projeto vingasse", diz Marcelo, que hoje se diverte navegando com a família nos finais de semana em Florianópolis, para onde o barco foi levado, quando finalmente ficou pronto, em fevereiro deste ano.
Mas o plano de fazer um barco caseiro – e daquele jeito – só deu certo porque Marcelo, hoje com 40 anos, sempre teve o apoio da esposa, Elisiane, de 38. "Do contrário, não haveria a menor chance de dar certo", brinca Marcelo. "A única maneira de acessar a obra do barco era por dentro de casa e o casco ficava a pouco mais de um metro do fogão da cozinha", recorda, rindo.
Só o que não estava nos planos da família é que o início da obra coincidiria com o nascimento da primeira filha do casal, Sofia, hoje com 5 anos de idade. "Ela nasceu junto com o barco", brinca Marcelo, cuja história sobre como construiu o barco ilustra uma das reportagens da revista Náutica deste mês.
Com o fim da obra, a laje agora vazia da garagem da casa dos Schurhaus deve ser usada para construir mais um quarto e ampliar a casa. Ou não… "Como eu e a Elisiane gostamos da experiência de construir um veleiro em casa, talvez, no futuro, a gente faça outro, um pouco maior, para morar nele, quando a gente se aposentar. E se fizermos isso será do mesmo jeito, na mesma laje, que se mostrou perfeita para o trabalho", diz o catarinense.
Embora completamente diferente no propósito, a imagem do barco da família Schurhaus quase no teto da casa fez lembrar algumas tragédias causadas por furacões e outros fenômenos naturais mundo afora. Numa delas, durante o devastador tsunami que atingiu a Indonésia em 2004, um barco de pesca de 25 metros de comprimento foi arrastado pelas ondas gigantes e acabou bem em cima de uma das casas da região de Banda Aceh, onde permanece até hoje. Mas em vez disso vitimar os moradores da casa, acabou sendo a salvação deles, num curioso e inédito episódio, que pode ser conferido clicando aqui.
Fotos: Jorge de Souza e Arquivo Pessoal
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