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Histórias do Mar

O sino que anuncia tragédias há mais de um século e meio

Jorge de Souza

06/08/2018 13h09

Sempre que alguma grande tragédia acontece nos mares ou em terra-firme, em qualquer canto do planeta, este sino toca, funebremente, no saguão central de um moderníssimo edifício no centro de Londres.

É uma triste homenagem às vítimas, mas também serve como aviso aos funcionários da mais antiga e famosa seguradora do mundo, a Lloyds, de que eles terão muito trabalho pela frente, nos dias subsequentes.

A tradição remonta há exatos 160 anos, quando, em 1858, uma expedição que buscava encontrar os restos da fragata inglesa Lutine, naufragada 59 anos antes na costa da Holanda, trouxe a superfície, em vez do ouro e das joias da coroa holandesa que eles procuravam, o sino de bronze do navio.

Não era o que eles buscavam, mas o sino acabou sendo levado para a sede da Lloyds, em Londres, que assegurava aquela embarcação.

Desde então, ele passou a fazer parte de um fúnebre ritual, que se mantém até hoje: todas as vezes que algum navio é dado como perdido ou desaparecido no mar (bem como outras catástofes que envolvam assegurados envolvidos com a Lloyds), ele toca na sede da empresa.]

E, quando isso acontece, vira um misto de tristeza e acontecimento – todo mundo quer ouvir o famoso sino da Lloyds badalar, mesmo sabendo que isso é, quase sempre, sinônimo de tragédia. O sino Lutine, como é conhecido, virou uma atração turística na capital inglesa, bem como o próprio prédio onde ele fica.

Mais que moderno, o prédio do Lloyds é visita obrigatória para quem gosta de arquitetura e até cinema. Com visual futurista, revestido de metal e com elevadores e até tubulações do lado de fora, é considerado um ícone da arquitetura pós-moderna, e já foi usado como cenário em diversos filmes, como Guardiões das Galáxias, Mamma Mia! e Avengers, para ficar só nos mais famosos.

Seu vão central é totalmente aberto, porque tudo o que ocuparia espaço interno foi colocado do lado de fora do prédio. E, com 14 andares e praticamente nenhuma parede interna, lembra aquelas cidades de filmes de ficção científica, já que é possível ver o formigueiro humano circulando dentro dele – o que não deixa de ser curioso para um empresa que existe desde o século 17 e cujo maior ícone é o tal sino, de mais de um século e meio atrás, que pode ser visto de qualquer ponto do prédio, por sinal.

Embora seja a sede da empresa e local de trabalho de centenas de funcionários, o prédio do Lloyds pode ser visitado. Lá também é possível conhecer a história do naufrágio que rendeu o seu símbolo mais famoso, e que, na ocasião, quase levou a seguradora a falência, porque a fragata Lutine levava nada menos que as jóias da então coroa holandesa e muito ouro para os bancos holandeses da época. Nunca se soube se tudo isso foi recuperado, apesar das diversas expedições realizadas – como aquela que achou o sino.

A dúvida, que paira até hoje sobre o destino da valiosa carga da fragata Lutine, rendeu uma das mais longevas caça ao tesouro da História e que dura até hoje, como pode ser conferida aqui.

Fotos: Divulgação

Sobre o autor

Jorge de Souza é jornalista há quase 40 anos. Ex-editor da revista “Náutica” e criador, entre outras, das revistas “Caminhos da Terra”, “Viagem e Turismo” e “Viaje Mais”. Autor dos livros “O Mundo É Um Barato” e “100 Lugares que Você Precisa Visitar Antes de Dizer que Conhece o Brasil”. Criou o site www.historiasdomar.com, que publica novas histórias náuticas verídicas todos os dias, fruto de intensas pesquisas -- que deram origem a seu terceiro livro, também chamado "Histórias do Mar - 200 casos verídicos de façanhas, dramas, aventuras e odisseias nos oceanos", lançado em abril de 2019.

Sobre o blog

Façanhas, aventuras, dramas e odisseias nos rios, lagos, mares e oceanos do planeta, em todos os tempos.