Uma tonelada de cocaína no barco: Temer apela por brasileiros presos
Dois novos fatos podem ajudar os velejadores brasileiros que estão presos em Cabo Verde desde o ano passado, acusados de tráfico internacional de drogas, depois que o barco no qual navegavam, contratados como marinheiros, foi flagrado levando mais de uma tonelada de cocaína escondida a bordo, do Brasil para a Europa (para entender este complexo caso, que já se arrasta há quase um ano, clique aqui).
Um dos motivos de otimismo para os brasileiros foi a prisão, no final do mês passado, na Espanha, do inglês Robert James Delbos (acima), um dos responsáveis pelo barco que transportava a droga. A prisão dele havia sido pedida pela Polícia Federal brasileira junto a Interpol, depois que ficou provado que os três brasileiros (o gaúcho Daniel Guerra, de 36 anos, e os baianos Rodrigo Dantas e Daniel Dantas, de 25 e 43 anos, que, apesar da mesma origem e sobrenome, não são parentes) foram vítimas de uma arapuca montadas pelos verdadeiros donos da droga e do barco – um deles, o próprio Robert Delbos.
O outro responsável é o também inglês George Saul, mais conhecido como "Fox" ("Raposa", em inglês), que contratou os três inexperientes brasileiros para aquela viagem, alegando que iria junto, mas, na última hora, caiu fora. Fox segue foragido, mas a prisão de seu sócio pode ajudar a localizá-lo.
Agora, a Polícia Federal brasileira está pedindo à Espanha a extradição de Delbos, a fim de interrogá-lo, o que, talvez, também possa ajudar a convencer a Justiça de Cabo Verde sobre a inocência dos três brasileiros.
Até aqui, no entanto, o juiz de Cabo Verde, Antero Tavares, que condenou os brasileiros a dez anos de prisão, ignorando o fato de que os responsáveis pela droga eram os ingleses, donos do barco, tem sido radicalmente contra todos os argumentos da defesa.
Recusou-se até a aceitar o relatório oficial da Polícia Federal brasileira que inocentou os brasileiros, ao cabo de uma investigação que durou vários meses e que começou ainda no Brasil, antes de o barco partir.
O juiz, que tampouco permitiu que todas as testemunhas de defesa dos brasileiros fossem ouvidas, alegou "parcialidade" na investigação para não incluir o relatório da polícia brasileira no processo, o que foi interpretado como uma afronta a instituição e gerou até nota de repúdio da Polícia Federal ao Ministério Público de Cabo Verde.
Mas, agora, este fato pode se transformar na segunda esperança dos brasileiros, que tentam, desde o julgamento, conseguir o benefício de aguardar em liberdade até que o recurso que seus advogados impetraram seja analisado.
A esperança está ligada ao fato de que, hoje, está acontecendo em Cabo Verde a XII Conferência de Chefes de Estado da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, com a presença do Presidente Michel Temer e vários políticos brasileiros em uma das ilhas do arquipélago. E eles prometeram tocar na questão com as autoridades cabo-verdianas.
Ontem, o deputado federal e membro da Comissão de Relações Exteriores do Congresso Brasileiro, Antonio Imbassahy, que faz parte da comitiva brasileira no encontro da OPLP (cuja presidência rotativa será justamente passada do Brasil para Cabo Verde no evento) esteve, inclusive, no presídio onde estão os brasileiros, conversou com eles e saiu de lá "convicto" sobre a inocência dos três rapazes, que entraram de gaiatos em barco abarrotado de drogas escondidas e compartimentos secretos no fundo do casco. E que, desde então, tentam provar que foram apenas usados como mulas involuntárias do tráfico internacional de drogas.
Imbassahy também se reuniu com os familiares dos presos, que estão há meses praticamente vivendo em Cabo Verde, em busca de algum meio de tirar os rapazes da cadeia, ainda que temporariamente, até que o recurso seja julgado.
E até Michel Temer. em reunião a portas fechadas com o seu colega Jorge Carlos Fonseca, presidente de Cabo Verde, apelou pelos brasileiros presos, respeitando, contudo, como frisou o Presidente brasileiro, a soberania do país cuja Justiça julgou o caso – que, no entanto, agora, um recurso tenta trazer a um novo julgamento. "É dever do governo do Brasil patrocinar, digamos assim, a defesa destes brasileiros", disse Temer, ao final do encontro.
Mas, apesar de tamanho apoio e envolvimento, este caso ainda está longe de ter um rápido final.
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